Ontem, quando cheguei, a mesa estava aparentemente cheia. Eu até podia sentar-me no balcão, mas nós, pessoas que escrevem, temos manias esquisitas, e eu acho sempre que a minha inspiração e criatividade ficam empoladas naquela mesa. Ia preparar-me para me sentar no balcão, num daqueles bancos que deixa os meus pés sem apoio, qual criança sentada no sofá alto da sala dos avós, quando um homem, talvez nos seus 30 e tal, retira o casaco da cadeira ao seu lado (que eu pensei estar ocupada) e me acena para me sentar lá. Sorri-lhe e agradeci. Ufffa, que alívio! Now we're talking! Hoje é que vai ser escrever como se não houvesse amanhã! Estes dedinhos vão teclar tanto que até vou ter caibras!, pensava eu.
Entretanto, enquanto preparava o estaminé para começar a trabalhar, ele olha para mim e pergunta, Oh, are you into fashion?, ao que respondo que sim, com ar tímido, enquanto já estou de volta de umas fotos para o site de moda. E ele volta a tentar a sorte, You look like a journalist, are you? Respondo que não, mas que trabalho para um jornal e escrevo. Ele continuou a fazer perguntas sobre o jornal, mas apercebendo-se que eu queria continuar a trabalhar, parou discreta e gradualmente de fazer perguntas. Mais tarde, enquanto balouçava a cabeça ao som da música ambiente que tocava a bom som no café, ele perguntou-me se reconhecia a cantora e disse-me que a conhecia, e blá blá blá. E meia hora depois, ainda me questionou acerca do carregador do iPhone, pois o dele estava quase sem bateria, e queria saber se eu tinha um comigo. Nunca vou saber se ele estava a praticar a arte do engate, ou se estava só a tentar ser simpático. O facto é que numa cidade em que as pessoas não são dadas ao sorriso, eu sou muito sorridente (mesmo, mesmo, ando sempre com os dentes à mostra), e se calhar isso abriu-lhe as portas para falar e estar à vontade.
Por um lado, apercebi-me também com esta situação da posição dos homens. Muitas vezes, as mulheres não dão o primeiro passo, pois assumem que isso é o papel do homem (e eu admito que sempre fui assim), mas hoje com o estranho do Starbucks
Por outro lado, nós, mulheres (muitas de nós, pelo menos, vá) estamos habituadas a ser o centro das atenções e a ser o alvo do engate e do interesse masculinos. Quando acontece o contrário, a mulher é normalmente olhada de lado pelas suas pares, porque é oferecida, fácil e vulgar. É fácil acusar uma mulher disso numa situação dessas, certo? No entanto, quando é um homem a fazê-lo, é normal, é o seu dever, é o seu papel, e isso não faz dele um fácil. Estranho estarmos já no século XXI e ainda assistirmos a este tipo de sexismo.
No geral, acho que quando feita com respeito e bom senso, a abordagem deve ser de louvar, mais que não seja pela coragem, tanto da parte do homem, como da mulher. Afinal, se não houvesse ninguém que desse o primeiro passo, não haveria finais felizes, e o que seria deste blogue sem finais felizes?
Fiquem a saber mais acerca do The Bubbly Girl in Glasses no:
E não se esqueçam de dar uma olhadela no meu outro site
Beijinhos,
A Menina dos Óculos
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