A mulher tem de ser linda, estar sempre vestida de acordo com a ocasião, não pode ser gorda, não pode desleixar-se, e tem de ficar em forma no mês seguinte a ter dado à luz. Quando é casada, não pode descurar o marido, tem de o alimentar, tem de lhe tratar da roupa, tem de lhe dar atenção sempre que possa e cuidar do pequenito, já que a culpa das traições dos maridos são sempre da mulher, que "não lhes deu o que eles precisavam e eles tinham de ir buscar fora". Quanto à casa, tem de estar imaculada, não pode ter uma grama de pó, nem estar mal aspirada (jamais) e a cozinha não pode ter uma gotinha de gordura. Se tiver filhos, não lhe é permitido que cometa erros; qualquer erro na educação ou cuidados com a criança é sinónimo de mulher fracassada, má mãe ou má pessoa mesmo. Em termos profissionais, a mulher não pode falhar (curiosamente, o homem sentado na secretária do lado pode falhar umas tantas vezes, mas a mulher não) em nada; deve cumprir todos os prazos religiosamente, sem nunca (jamais) se queixar, mesmo que os prazos sejam literalmente estúpidos e cumpri-los signifique deixar de ter uma vida e poder tirar pelo menos uma horinha por dia para ela relaxar e tratar de si própria. No entanto, lá está o ciclo vicioso, espera-se que a mulher esteja sempre linda, fabulosa, fantástica, sem olheiras e com o cabelo perfeito. Mas como? Se a mulher tem de ser a mãe, a esposa, a profissional, a mulher perfeita em tudo?!?! Será que é sequer possível ser-se tão impecavelmente bom e sem falhas, em todos os campos da nossa vida? É que eu não sou, e se isso significa ter de me sentir fracassada, raios, é melhor perder uns dias (ou meses) da minha vida miserável só a investir sem piedade na minha auto-depressão, porque admito que não sou o que a sociedade espera que eu seja.
O ridículo disto tudo, é que nós é que fazemos a sociedade, e bem, se concluirmos que as mulheres fazem parte de pelo menos metade da sociedade, são elas praticamente (dado que a maior parte dos homens não quer saber desta treta da mulher ter de ser perfeita; para eles se tiver um par de mamas, for bonitinha e os tratar bem, já está no ir) que colocam toda esta pressão em cima das suas pares. Elas, que também têm com certeza as suas falhas, porque ninguém é assim tão perfeito, acabam por exigir que as outras o sejam. Quando descobrem que a X ou a Y engordaram 1kg festejam e criticam; se se apercebem que a Z ou a W não passaram bem a camisa do namorado a ferro (pois, que o homem não tem mãozinhas para passar roupa a ferro, querem ver?) querem ser logo as primeiras da fila a apontar o dedo. E isso enerva-me! Enfurece-me!
Para mim, essa mulher perfeita que querem que sejamos, não é de longe uma mulher poderosa. É antes uma escrava que aceita e faz tudo o que a sociedade espera que ela faça. E isso não é ser poderoso; não é ser dona da sua vida. Não é ter controlo na sua vida. É precisamente o oposto.
A mulher poderosa deve saber o que quer e deve estar a borrifar-se para o facto de nem sempre conseguir fazer tudo bem, desde que vá tentando melhorar ao seu ritmo, se assim for a sua vontade. A mulher poderosa não precisa de fazer um esforço por ser sexy 24/7 em relação ao sexo oposto, pois tem atitude. E digam o que disserem, não há nada mais sexy do que uma mulher com atitude e sentido de humor. Uma mulher poderosa quando não tem tempo para passar a camisa do namorado diz-lhe que hoje é ele que a tem de passar, ou que se quer que ela a passe, que vai ter ele de aspirar a sala, porque ela não se desdobra em três. Uma mulher poderosa sabe estar, sabe rir quando faz falta, convive, e é confiante. Uma mulher poderosa tem amigas de verdade, daquelas que não apontam o dedo. A mulher poderosa é a que converte naturalmente aquelas que lhe poderiam apontar o dedo, nas suas melhores amigas, com quem conversa e se ri das suas falhas ocasionais. Com elas é certo que não há capas de falsas moralidades ou pseudo-perfeições, porque no fundo, no fundo, todas falham às vezes, e podem falhar. Acima de tudo, uma mulher poderosa tem atitude para aceitar que no seu caminho vai perder muitas pessoas, nomeadamente muitas das mulheres que lhe apontam o dedo, mas sabe que quem tiver de ficar na sua vida, vai acabar por ficar. E essas que ficam são as tais, as que são poderosas como ela.
Beijinhos,
A Menina dos Óculos
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