Monday, 24 February 2014

Sem rede de segurança...

Hoje começo este post sem a mínima ideia acerca do que vou escrever. Não costumo fazê-lo, admito que é algo estranho para mim. Sou daquelas pessoas que geralmente precisa de orientação, de planos, de objectivos, de estratégias delineadas para me sentir segura e feliz. Não quer isto dizer que, às tantas quantas, não acabe muitas vezes por alterar esses ditos "planos", esses tais "objectivos". Não me agarro a eles como se fossem a minha única salvação, mas sinto que funcionam como uma rede de segurança que me garante a confiança para seguir em frente, com menos medo, menos receios. Gosto de ter o plano A, o B, o C… E sou assim em vários campos, seja profissionalmente, seja no modo como percebo as relações, seja até na cozinha, onde tanto me divirto (hoje fiz um 5 o'clock tea cake para o lanche do Mr. Bubbly, que deve estar fabuloso, mais não seja pela quantidade de brandy que leva…), enfim, tenho dificuldade em combatê-lo, daí que hoje me tenha proposto a começar esta crónica precisamente sem tema, sem rede de segurança, experimentando e deixando-me levar por onde quer que a minha imaginação e raciocínio me levasse. E para ser sincera, por agora estou a gostar.

Ser espontâneo traz-nos tanto de bom, e confesso que grande parte das vezes os meus planos não correm exactamente de acordo com o esperado (quase sempre, vá), mas custa bastante deixarmo-nos levar pela onda e ver no que dá (pelo menos a mim, custa…). Eu sou geralmente uma pessoa comedida, tranquila, não sou de dizer tudo o que me vem à cabeça, a menos que esteja com um grupo de amigos muito, muito próximo (assim daqueles que conheço desde o secundário, para terem noção). É o meu jeito, é a minha maneira de ser, foi o modo como aprendi a interagir. Basicamente, tenho a noção que se disser tudo o que me passa pela cabeça, os meus amigos vão ficar a pensar que tenho de ser internada, porque por vezes passam-me coisas muito, muito estúpidas pela cabecinha. Este fim-de-semana dei por mim numa festa com amigos e tendo em consideração que tenho alguma sensibilidade ao álcool (dois ou três copinhos de Rosé - nem precisam de estar cheios - e já estou no ponto H - de Happy), acabei por me desbroncar toda e, bem, lá espontânea fui. Não sei é se eles ficaram assustados ou a pensar que tenho algum problema grave e tenho de ser internada. O facto é que nos divertimos imenso e nos rimos a bom rir das patetices que eu a Ângela e a Rafaela passamos a noite a fazer e a dizer. Por vezes, ser espontâneo sabe bem, lembra-nos que a vida não tem de ser tão séria, não tem de ser só acerca dos nossos projectos, dos nossos objectivos. 

Profissionalmente, neste momento, estou a ser bastante espontânea, não haja dúvida. Claro que tenho a sorte de ter um suporte financeiro que me permite sê-lo; sem isso seria impossível dar-me ao luxo de desistir do ensino aqui em Londres (vade retro), escrever neste blogue com a regularidade com que estou a fazer, de trabalhar num jornal comunitário, de poder despender tanto tempo nas minhas culinarices, ou de estar a desenvolver um projecto aqui em Londres que vos apresentarei assim que possível. Nunca antes me tinha entregue a este tipo de espontaneidade profissional. Ainda não estou no ponto em que possa dizer que o que faço recompensa financeiramente, mas sinto que já estive mais longe. Força de vontade não me falta, e isso era algo que enquanto professora em Londres, me faltava. O melhor de tudo é que embora sinta muito a falta dos meus alunos em Portugal, daqueles queriduchos todos de que nunca me esqueço e que vou seguindo conforme posso, estou a fazer algo que me faz feliz: escrever, e nunca antes me tinha dado a oportunidade de fazer algo 24/7 só porque me dá prazer, vislumbrando a possibilidade de isso me trazer algum retorno que não seja só o prazer de o fazer.

No amor, a espontaneidade, o apostar em correr riscos trouxeram-me o Mr. Bubbly. Ele era uma espécie de playboyzinho com fama de não se apaixonar facilmente. Logo à partida ele era aquilo que eu não precisava na minha (na altura) vida extremamente estável e planeada a todos os níveis possíveis e imaginários. Por outro lado, tinha o sentido de humor que eu gostava, tinha a ambição e os projectos que eu acreditava poder ajudar a desenvolver, tinha o ar descontraído e descomplicado que me atraía nos homens, e tinha aquele jeito que me deixava desconfiada por um lado, mas que me fazia derreter por outro. Apesar das minhas reticências, acabei por me entregar à espontaneidade, de aceitar o desafio, de experimentar, e cá estamos hoje: casados duas vezes, e felizes. A nossa vida não é perfeita, nem é isso que quero aparentar, temos as nossas discussões (muito raramente, nem me lembro da última para ser honesta, deve ter sido porque ele deixou as chuteiras na cozinha - o habitual), não concordamos em tudo, não é tudo rosa, mas sabemos ver o que temos de positivo na nossa relação, valorizar o bom que o outro traz às nossas vidas e estamos sempre lá um para o outro, para o concretizar dos nossos objectivos e para aquelas fases em que nada corre de acordo com o que tínhamos planeado.

Tenho 31 anos e ainda estou a aprender a viver de forma espontânea, a abraçar e apreciar essa espontaneidade, e agora que penso, ter escrito esta crónica de forma tão espontânea fez-me perceber o que de outra forma ainda não tinha concluído: até agora, ser espontânea, nunca me desiludiu; pelo contrário fez-me feliz. Acho que o mote do dia (e dos próximos tempos) vai ser mesmo esse: dar largas à espontaneidade, sem rede de segurança, e esperar que o está por vir seja tão bom como o que veio até aqui.



Beijinhos,

A Menina dos Óculos

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