Friday 28 February 2014

No Starbucks de Clapham...

Como já aqui disse várias vezes, o meu local preferido para escrever é aqui no Starbucks de Clapham. Depois de trabalhar no computador durante a manhã, ir ao gym (nos últimos dias não tenho conseguido ir) e almoçar, costumo ir para lá e pensar os posts dos dias seguintes, bem como preparar o material do More than Labels. O Starbucks de Clapham é muito amigável, e está sempre recheado de jovens de ar simpático.  Ao fundo tem uma mesa comprida que costumo partilhar com os meus 'amigos' desconhecidos - alguns deles são já uns habitués do local (e da mesa, claro) - e onde fico praticamente sempre porque fica perto da tomada de electricidade, e como geralmente tenho de carregar o computador, dá mais jeito.

Ontem, quando cheguei, a mesa estava aparentemente cheia. Eu até podia sentar-me no balcão, mas nós, pessoas que escrevem, temos manias esquisitas, e eu acho sempre que a minha inspiração e criatividade ficam empoladas naquela mesa. Ia preparar-me para me sentar no balcão, num daqueles bancos que deixa os meus pés sem apoio, qual criança sentada no sofá alto da sala dos avós, quando um homem, talvez nos seus 30 e tal, retira o casaco da cadeira ao seu lado (que eu pensei estar ocupada) e me acena para me sentar lá. Sorri-lhe e agradeci. Ufffa, que alívio! Now we're talking! Hoje é que vai ser escrever como se não houvesse amanhã! Estes dedinhos vão teclar tanto que até vou ter caibras!, pensava eu.

Entretanto, enquanto preparava o estaminé para começar a trabalhar, ele olha para mim e pergunta, Oh, are you into fashion?, ao que respondo que sim, com ar tímido, enquanto já estou de volta de umas fotos para o site de moda. E ele volta a tentar a sorte, You look like a journalist, are you? Respondo que não, mas que trabalho para um jornal e escrevo. Ele continuou a fazer perguntas sobre o jornal, mas apercebendo-se que eu queria continuar a trabalhar, parou discreta e gradualmente de fazer perguntas. Mais tarde, enquanto balouçava a cabeça ao som da música ambiente que tocava a bom som no café, ele perguntou-me se reconhecia a cantora e disse-me que a conhecia, e blá blá blá. E meia hora depois, ainda me questionou acerca do carregador do iPhone, pois o dele estava quase sem bateria, e queria saber se eu tinha um comigo. Nunca vou saber se ele estava a praticar a arte do engate, ou se estava só a tentar ser simpático. O facto é que numa cidade em que as pessoas não são dadas ao sorriso, eu sou muito sorridente (mesmo, mesmo, ando sempre com os dentes à mostra), e se calhar isso abriu-lhe as portas para falar e estar à vontade.

Por um lado, apercebi-me também com esta situação da posição dos homens. Muitas vezes, as mulheres não dão o primeiro passo, pois assumem que isso é o papel do homem (e eu admito que sempre fui assim), mas hoje com o estranho do Starbucks - chamemos-lhe John, já que não sei o seu nome -, o John, fiquei a pensar que provavelmente é uma posição ingrata. Os homens, suponho, já estão habituados aos recuos e às negas das mulheres, mas mesmo assim, não consigo parar de pensar que muitas vezes é preciso um esforço e uma coragem enormes para meter conversa com alguém do nada. Eu própria não sei se conseguiria fazê-lo. Graças a Deus que não sou homem!

Por outro lado, nós, mulheres (muitas de nós, pelo menos, vá) estamos habituadas a ser o centro das atenções e a ser o alvo do engate e do interesse masculinos. Quando acontece o contrário, a mulher é normalmente olhada de lado pelas suas pares, porque é oferecida, fácil e vulgar. É fácil acusar uma mulher disso numa situação dessas, certo? No entanto, quando é um homem a fazê-lo, é normal, é o seu dever, é o seu papel, e isso não faz dele um fácil. Estranho estarmos já no século XXI e ainda assistirmos a este tipo de sexismo.

No geral, acho que quando feita com respeito e bom senso, a abordagem deve ser de louvar, mais que não seja pela coragem, tanto da parte do homem, como da mulher. Afinal, se não houvesse ninguém que desse o primeiro passo, não haveria finais felizes, e o que seria deste blogue sem finais felizes?



Fiquem a saber mais acerca do The Bubbly Girl in Glasses no:

E não se esqueçam de dar uma olhadela no meu outro site

Aconselho ESTE post e ESTE. E claro, o meu último, ESTE!

Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Thursday 27 February 2014

Olhe, desculpe, pode indicar-me a direcção para o amor?

É sabido que não há uma bússola ou um mapa que nos indique ou direcione para o amor verdadeiro, mas também é certo que um dos dois me tinha dado um jeitaço antes de ter conhecido o Mr. Bubbly. Com certeza teria errado muito menos, tropeçado quase nunca e teria agora menos cicatrizes dos meus fracassos amorosos do passado.

O facto é que, não havendo nenhuma geringonça que nos oriente, nem nenhum transeunte disponível que domine as ruas e avenidas do amor para responder às nossas questões, a solução que nos resta é confiar nos nossos instintos e acreditar que haverá luz ao fundo do túnel. Curiosamente, eu sou um terror com direcções, sou daquelas pessoas que pergunta: Olhe, desculpe, sabe-me dizer como se chega ao restaurante X de Tal?, e depois fico a ouvir muito atentamente como se estivesse a acompanhar (e a perceber tudo), mas a verdade é que à segunda curva à esquerda já estou desconcentrada e a reparar no chapéu que o senhor que me está a responder passeia na cabeça, enquanto aceno em sinal de entendimento [És uma falsa Menina dos Óculos!!], mas sem ouvir uma palavra do que me está a ser dito. E o pior é que, tratando-se de direcções, mesmo quando consigo inexplicavelmente fazer um esforço heróico de concentração para ouvir tudo o que me dizem, esqueço-me imediatamente se viro na 2ª à direita ou na 3ª à esquerda. É absurdo! Tão absurdo como a minha capacidade de orientação!

Desenganem-se, tanto nas direcções das estradas, como nas direcções do amor, fiz asneiras a "dar com pau". E se nos perdermos na estrada, menos mal, que sempre podemos voltar atrás, mas se nos perdemos nos nossos sentimentos, voltar atrás já parece coisa do demónio, que este nosso coração é teimoso que nem uma mula e muitas vezes é estúpido c faz-nos fazer coisas mesmo parvas. A única solução quando já estamos perdidinhos de todo é parar para pensar no que fizemos de mal, por que caminho é que seguimos que não deveríamos ter seguido, e, tal como quando nos perdemos na rua, temos de voltar atrás, ao ponto de partida, e começar de novo.

Por vezes, é normal acharmos que se calhar não precisamos de recuar e fazer tudo de novo e bem, preferimos insistir na burrice nos nossos erros e achamos que podemos remediar a situação e encontrar um atalho após estarmos perdidos, sem ser necessário voltar o caminho todo para trás. Até pode acontecer, mas não acontece com frequência, por isso quando é assim, nada de arriscar, que depois é pior a emenda que o soneto e estamos só a atrasar o momento em que voltamos a estar orientados.

Depois disto, vou mas é ali mandar um email ao CEO da Google, para ver se ele alinha em inventar uma aplicação chamada Google Love-Maps, só para nos facilitar a vida!


Acompanhem a Menina dos Óculos no

Também podem acompanhar o meu site de moda, que não custa nada e até é giro ;)
Aconselho ESTE post e ESTE! :)

Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Wednesday 26 February 2014

Resident Single Londoners

Londres é o exemplo perfeito de uma cidade de solteiros. Desconfio que a inspiração do Resident Evil foi esta cidade, mas em vez de "solteiros", colocaram zombies, para os Londrinos não se sentirem directamente afectados. A verdade é que durante as horas de ponta, no metro, as pessoas mais parecem zombies mesmo - uns encostados ao vidro a ressonar, outros em modo automático, sentados e a olhar o vazio, como se naquelas cabecinhas só passeasse ar e vento, outros a ouvir rotineiramente a sua musiquinha no iPhone, e outros a ler o seu livro, esmagados por todos os lados , com o braço levantado a segurar o livro sem nunca desistir de o ler apesar das condições pouco convidativas (estes devem ser os heróis do filme original "Resident Single" (Londoners, acrescentaria eu).

Ser solteiro parece ter-se tornado uma epidemia contagiante. Por cá encontram-se alguns casais, sim, mas comparativamente, o número de solteiros é esmagador, e só nos apercebemos da dimensão desse número quando saímos sexta ou sábado à noite por cá. São estes os dias em que os solitários à procura de amor (ou algo mais superficial)
saem de casa e enfrentam um possível romance - costuma ser mais uma one-night stand, na verdade (tal como em Portugal, conhecer pessoas à noite e iniciar uma relação com elas não é fácil, embora possa acontecer), mas alguns acreditam que o flirt é suficiente para colmatar as carências de afecto e atenção. A meu ver, não é suficiente, porque se baseia em algo muito superficial, mas numa cidade como Londres, competitiva e absurdamente agitada, até que ponto é que é fácil iniciar uma relação séria e estável?

Os Londoners preocupam-se com o trabalho e pouco mais. Não são muito dados à culinária (não têm fama disso, é sabido) e esperam sempre pelo final do dia de trabalho para beber uma pint com os amigos no bar irlandês da esquina. Investem bastante na socialização com os amigos, com quem viajam e passam bastante tempo. Contudo, na hora de aprofundar uma relação, algo parece, muitas vezes falhar, ou por falta de experiência, ou por falta de maturidade, ou por falta de tempo, ou, simplesmente, por falta de vontade de uma, ou das duas partes. Talvez porque eu seja do Sul da Europa, um povo mais quente, que vive o amor mais intensamente, me pareça estranha esta dificuldade que eles demonstram em dar o próximo passo.

Contudo, passado algum tempo, acabo por compreender que para muitos deles (principalmente, mas não exclusivamente, para os homens) assentar implica ter muito menos tempo para os amigos e para investir na carreira. As mulheres e, no caso uma relação estável, ou até a possibilidade de iniciar uma família exigem muito tempo, de que eles teriam de abdicar, e as suas vidas nunca mais seriam as mesmas. A mudança pode ser assustadora, se pensarmos que nesta cidade muitas vezes são as rotinas que nos dão a sensação de segurança e de conforto. Além disso, o facto é que chegando a sexta-feira à noite, só dorme sozinho quem quer, e variedade é o que não falta nesta terra.

Para mim, que sou uma romântica, quando vejo um casal apaixonado cá, abro logo um sorriso - é sinal que dois single Londoners se encontraram e podem agora tentar a felicidade juntos, sem medos. E quanto aos outros, não critico a sua forma de viver ou de entender a vida e o amor, aliás, acredito que também sejam felizes, à sua maneira. Acredito também que no dia em que souberem o que estão a perder, não vão querer outra coisa.


Podem saber mais do The Bubbly Girl in Glasses no

Para acompanharem o meu novo website de moda, sigam

Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Tuesday 25 February 2014

Tanto para fazer e tão pouco tempo!! ARRRRHHH!

O dia hoje está chuvoso e escuro por Londres. Eu ando maluca com o início do meu novo site More than Labels. Parece que não, mas dá imenso trabalho, e como vos tinha prometido, está fora de questão de abandonar o nosso cantinho, acho que mesmo que decidisse que era melhor para mim, neste momento já não conseguiria fazê-lo. O The Bubbly Girl in Glasses já esteve parado tantos meses no passado e não consegui fechá-lo, porque achava que o blogue ainda tinha muito para dar, e não há-de ser agora que vou baixar os braços, muito pelo contrário, apesar de todo o trabalho que envolve manter estes dois projectos, o prazer que estes me proporcionam compensa tudo.

No entanto, apesar disso, posso trabalhar de casa, mesmo para o jornal, também não preciso de estar sempre com a equipa a fazê-lo posso ir fazendo de casa. Para aquelas pessoas que têm de conciliar tudo, e principalmente já têm filhos, não imagino o sufoco que deva ser. O tempo nos dias de hoje não se mede de facto pelas horas do dia, mas sim pela quantidade de trabalho/coisas que fazemos ao longo do mesmo. Basicamente se apenas conseguirmos terminar uma das tarefas que nos tínhamos proposto, significa que o dia não rendeu e a sensação de frustração ao final do dia é angustiante. Muitas das vezes são as nossas relações (familares e de amizade) que acabam por pagar por isso. O trabalho que não se faz no local de emprego, faz-se em casa nas horas vagas, o que normalmente implica menos tempo para estar com quem tem, efectivamente, importância para nós.

Calculo que cheguemos a um momento na vida em que temos todos de equacionar quais são as nossas prioridades em termos da gestão do tempo que fazemos. Lembro-me que quando estava em Portugal (já no último ano) dava por mim a concluir que seria impossível criar um filho um dia, se mantivesse o rimo e o estilo de vida que levava - a quantidade de aulas que dava era de loucos, e tornaria a maternidade uma mera ilusão. Eu acabei por tomar a decisão de vir para Londres, também com isso em mente, pelo facto de não querer abdicar do nível de vida que tinha e dos projectos que me faltava concretizar, e o Mr. Bubbly estava exactamente a pensar da mesma forma.

Há alturas em que sair do país não é opção, pelo que há que tentar encontrar formas de "multiplicar" o tempo. Como? Bem, eu tenho aqui uma listinha de sugestões:

1. Fazer as tarefas domésticas a dois quando é o caso (e fazê-las juntos, para que assim se passe mais algum tempo a conversar);
2. Envolver os filhos (quando os há) em algumas tarefas, como preparar um bolo, ou ajudar a dobrar as meias, por exemplo;
3. Tentar agrupar o máximo de tarefas para os dias da semana (que já sabemos estão perdidos de qualquer forma), libertando assim os fins-de-semana;
4. Aproveitar os furos no horário para conviver, seja à hora de almoço com os colegas de trabalho, ou no caminho para casa ao telefone com a amiga (não é o mesmo que estar com ela, mas já não é mau de todo);
5. Encontrar estratégias para desligar o botãozinho do trabalho ao fim-de-semana (tempo sagrado, em que não se deve sequer pensar nos problemas ou prazos do emprego);
6. Tirar algum tempo para nós, nem que seja só ao Sábado de manhã. Havendo filhos, é mais complicado, mas se se combinar bem as coisas com o pai, ele pode ficar com a criança ao sábado de manhã e nós ficamos com ela ao domingo à noite, quando ele está a ver o jogo de futebol, por exemplo;
7. Por vezes, quando cozinhamos, podemos cozinhar em mais quantidade e congelar parte da comida para aqueles dias em que não nos apetece nadinha estar na cozinha depois de um dia de trabalho;
8. Não ir ao supermercado 3 vezes à semana (os meus pais têm essa mania, mas eu acho uma perda de tempo). Façam a lista ao fim-de-semana do que vão cozinhar durante a semana (só nisso já poupam imenso tempo) e depois comprem o máximo possível dos itens da vossa lista para não andarem sempre a correr para o mesmo sítio.

Bem, claro que não há milagres, mas sempre podemos tentar facilitar a nossa vida. Eu só sei é que ainda não tenho filhotes e já tenho tão pouco tempo! Já agora, se os meus conselhos resultarem, avisem, sim? :)



Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Monday 24 February 2014

More than Labels

E a crónica que escrevi hoje de tarde, apesar de espontânea, não poderia ter vindo mais a calhar, porque já estou há algum tempo (desde o início do ano para ser mais precisa) com um novo projecto na manga que queria muito partilhar convosco, o More than Labels, um site de moda que comecei a desenvolver e que está agora a ganhar vida, e hoje a ser inaugurado oficialmente.

Todo ele é escrito em Inglês, de modo a permitir que seja lido não só por Portugueses, mas também por pessoas de outras nacionalidades, nomeadamente os Britânicos. Ora evidentemente que isto não significa que vou deixar de escrever em Português, aqui no The Bubbly Girl in Glasses (Naaaah, não se vêem livre de mim assim tão depressa); continuarei a escrever aqui no nosso cantinho, porque escrever na minha língua é algo que me conforta, e é algo de que descobri há algum tempo, me faz um bocadinho mais feliz todos os dias.

Assim, não fiquem com ciúmes (;P), eu vou continuar por cá, e vocês podem continuar a ser uns queridos e seguir-me também por lá. Prometo que vai valer MUUUIIITOOOO a pena, principalmente para os fanáticos sartorialistas (como eu) que já gostavam de me visitar…

Conheçam o More than Labels AQUI!
O More than Labels também está no


Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Sem rede de segurança...

Hoje começo este post sem a mínima ideia acerca do que vou escrever. Não costumo fazê-lo, admito que é algo estranho para mim. Sou daquelas pessoas que geralmente precisa de orientação, de planos, de objectivos, de estratégias delineadas para me sentir segura e feliz. Não quer isto dizer que, às tantas quantas, não acabe muitas vezes por alterar esses ditos "planos", esses tais "objectivos". Não me agarro a eles como se fossem a minha única salvação, mas sinto que funcionam como uma rede de segurança que me garante a confiança para seguir em frente, com menos medo, menos receios. Gosto de ter o plano A, o B, o C… E sou assim em vários campos, seja profissionalmente, seja no modo como percebo as relações, seja até na cozinha, onde tanto me divirto (hoje fiz um 5 o'clock tea cake para o lanche do Mr. Bubbly, que deve estar fabuloso, mais não seja pela quantidade de brandy que leva…), enfim, tenho dificuldade em combatê-lo, daí que hoje me tenha proposto a começar esta crónica precisamente sem tema, sem rede de segurança, experimentando e deixando-me levar por onde quer que a minha imaginação e raciocínio me levasse. E para ser sincera, por agora estou a gostar.

Ser espontâneo traz-nos tanto de bom, e confesso que grande parte das vezes os meus planos não correm exactamente de acordo com o esperado (quase sempre, vá), mas custa bastante deixarmo-nos levar pela onda e ver no que dá (pelo menos a mim, custa…). Eu sou geralmente uma pessoa comedida, tranquila, não sou de dizer tudo o que me vem à cabeça, a menos que esteja com um grupo de amigos muito, muito próximo (assim daqueles que conheço desde o secundário, para terem noção). É o meu jeito, é a minha maneira de ser, foi o modo como aprendi a interagir. Basicamente, tenho a noção que se disser tudo o que me passa pela cabeça, os meus amigos vão ficar a pensar que tenho de ser internada, porque por vezes passam-me coisas muito, muito estúpidas pela cabecinha. Este fim-de-semana dei por mim numa festa com amigos e tendo em consideração que tenho alguma sensibilidade ao álcool (dois ou três copinhos de Rosé - nem precisam de estar cheios - e já estou no ponto H - de Happy), acabei por me desbroncar toda e, bem, lá espontânea fui. Não sei é se eles ficaram assustados ou a pensar que tenho algum problema grave e tenho de ser internada. O facto é que nos divertimos imenso e nos rimos a bom rir das patetices que eu a Ângela e a Rafaela passamos a noite a fazer e a dizer. Por vezes, ser espontâneo sabe bem, lembra-nos que a vida não tem de ser tão séria, não tem de ser só acerca dos nossos projectos, dos nossos objectivos. 

Profissionalmente, neste momento, estou a ser bastante espontânea, não haja dúvida. Claro que tenho a sorte de ter um suporte financeiro que me permite sê-lo; sem isso seria impossível dar-me ao luxo de desistir do ensino aqui em Londres (vade retro), escrever neste blogue com a regularidade com que estou a fazer, de trabalhar num jornal comunitário, de poder despender tanto tempo nas minhas culinarices, ou de estar a desenvolver um projecto aqui em Londres que vos apresentarei assim que possível. Nunca antes me tinha entregue a este tipo de espontaneidade profissional. Ainda não estou no ponto em que possa dizer que o que faço recompensa financeiramente, mas sinto que já estive mais longe. Força de vontade não me falta, e isso era algo que enquanto professora em Londres, me faltava. O melhor de tudo é que embora sinta muito a falta dos meus alunos em Portugal, daqueles queriduchos todos de que nunca me esqueço e que vou seguindo conforme posso, estou a fazer algo que me faz feliz: escrever, e nunca antes me tinha dado a oportunidade de fazer algo 24/7 só porque me dá prazer, vislumbrando a possibilidade de isso me trazer algum retorno que não seja só o prazer de o fazer.

No amor, a espontaneidade, o apostar em correr riscos trouxeram-me o Mr. Bubbly. Ele era uma espécie de playboyzinho com fama de não se apaixonar facilmente. Logo à partida ele era aquilo que eu não precisava na minha (na altura) vida extremamente estável e planeada a todos os níveis possíveis e imaginários. Por outro lado, tinha o sentido de humor que eu gostava, tinha a ambição e os projectos que eu acreditava poder ajudar a desenvolver, tinha o ar descontraído e descomplicado que me atraía nos homens, e tinha aquele jeito que me deixava desconfiada por um lado, mas que me fazia derreter por outro. Apesar das minhas reticências, acabei por me entregar à espontaneidade, de aceitar o desafio, de experimentar, e cá estamos hoje: casados duas vezes, e felizes. A nossa vida não é perfeita, nem é isso que quero aparentar, temos as nossas discussões (muito raramente, nem me lembro da última para ser honesta, deve ter sido porque ele deixou as chuteiras na cozinha - o habitual), não concordamos em tudo, não é tudo rosa, mas sabemos ver o que temos de positivo na nossa relação, valorizar o bom que o outro traz às nossas vidas e estamos sempre lá um para o outro, para o concretizar dos nossos objectivos e para aquelas fases em que nada corre de acordo com o que tínhamos planeado.

Tenho 31 anos e ainda estou a aprender a viver de forma espontânea, a abraçar e apreciar essa espontaneidade, e agora que penso, ter escrito esta crónica de forma tão espontânea fez-me perceber o que de outra forma ainda não tinha concluído: até agora, ser espontânea, nunca me desiludiu; pelo contrário fez-me feliz. Acho que o mote do dia (e dos próximos tempos) vai ser mesmo esse: dar largas à espontaneidade, sem rede de segurança, e esperar que o está por vir seja tão bom como o que veio até aqui.



Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Saturday 22 February 2014

Ser poderosa é...

Numa sociedade que tende a ensinar-nos que devemos viver para nós, que muitas vezes nos impinge o egocentrismo, o narcisismo até, as mulheres aprenderam a acreditar que para terem sucesso nas suas vidas têm de ser perfeitas em tudo.

A mulher tem de ser linda, estar sempre vestida de acordo com a ocasião, não pode ser gorda, não pode desleixar-se, e tem de ficar em forma no mês seguinte a ter dado à luz. Quando é casada, não pode descurar o marido, tem de o alimentar, tem de lhe tratar da roupa, tem de lhe dar atenção sempre que possa e cuidar do pequenito, já que a culpa das traições dos maridos são sempre da mulher, que "não lhes deu o que eles precisavam e eles tinham de ir buscar fora". Quanto à casa, tem de estar imaculada, não pode ter uma grama de pó, nem estar mal aspirada (jamais) e a cozinha não pode ter uma gotinha de gordura. Se tiver filhos, não lhe é permitido que cometa erros; qualquer erro na educação ou cuidados com a criança é sinónimo de mulher fracassada, má mãe ou má pessoa mesmo. Em termos profissionais, a mulher não pode falhar (curiosamente, o homem sentado na secretária do lado pode falhar umas tantas vezes, mas a mulher não) em nada; deve cumprir todos os prazos religiosamente, sem nunca (jamais) se queixar, mesmo que os prazos sejam literalmente estúpidos e cumpri-los signifique deixar de ter uma vida e poder tirar pelo menos uma horinha por dia para ela relaxar e tratar de si própria. No entanto, lá está o ciclo vicioso, espera-se que a mulher esteja sempre linda, fabulosa, fantástica, sem olheiras e com o cabelo perfeito. Mas como? Se a mulher tem de ser a mãe, a esposa, a profissional, a mulher perfeita em tudo?!?! Será que é sequer possível ser-se tão impecavelmente bom e sem falhas, em todos os campos da nossa vida? É que eu não sou, e se isso significa ter de me sentir fracassada, raios, é melhor perder uns dias (ou meses) da minha vida miserável só a investir sem piedade na minha auto-depressão, porque admito que não sou o que a sociedade espera que eu seja.

O ridículo disto tudo, é que nós é que fazemos a sociedade, e bem, se concluirmos que as mulheres fazem parte de pelo menos metade da sociedade, são elas praticamente (dado que a maior parte dos homens não quer saber desta treta da mulher ter de ser perfeita; para eles se tiver um par de mamas, for bonitinha e os tratar bem, já está no ir) que colocam toda esta pressão em cima das suas pares. Elas, que também têm com certeza as suas falhas, porque ninguém é assim tão perfeito, acabam por exigir que as outras o sejam. Quando descobrem que a X ou a Y engordaram 1kg festejam e criticam; se se apercebem que a Z ou a W não passaram bem a camisa do namorado a ferro (pois, que o homem não tem mãozinhas para passar roupa a ferro, querem ver?) querem ser logo as primeiras da fila a apontar o dedo. E isso enerva-me! Enfurece-me! 

Para mim, essa mulher perfeita que querem que sejamos, não é de longe uma mulher poderosa. É antes uma escrava que aceita e faz tudo o que a sociedade espera que ela faça. E isso não é ser poderoso; não é ser dona da sua vida. Não é ter controlo na sua vida. É precisamente o oposto. 

A mulher poderosa deve saber o que quer e deve estar a borrifar-se para o facto de nem sempre conseguir fazer tudo bem, desde que vá tentando melhorar ao seu ritmo, se assim for a sua vontade. A mulher poderosa não precisa de fazer um esforço por ser sexy 24/7 em relação ao sexo oposto, pois tem atitude. E digam o que disserem, não há nada mais sexy do que uma mulher com atitude e sentido de humor. Uma mulher poderosa quando não tem tempo para passar a camisa do namorado diz-lhe que hoje é ele que a tem de passar, ou que se quer que ela a passe, que vai ter ele de aspirar a sala, porque ela não se desdobra em três. Uma mulher poderosa sabe estar, sabe rir quando faz falta, convive, e é confiante. Uma mulher poderosa tem amigas de verdade, daquelas que não apontam o dedo. A mulher poderosa é a que converte naturalmente aquelas que lhe poderiam apontar o dedo, nas suas melhores amigas, com quem conversa e se ri das suas falhas ocasionais. Com elas é certo que não há capas de falsas moralidades ou pseudo-perfeições, porque no fundo, no fundo, todas falham às vezes, e podem falhar. Acima de tudo, uma mulher poderosa tem atitude para aceitar que no seu caminho vai perder muitas pessoas, nomeadamente muitas das mulheres que lhe apontam o dedo, mas sabe que quem tiver de ficar na sua vida, vai acabar por ficar. E essas que ficam são as tais, as que são poderosas como ela.



Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Friday 21 February 2014

Estive quase, quase, para te amar, mas...

Quando somos solteiros e estamos naquela onda positiva de conhecer pessoas, e nos deixarmos apaixonar, por vezes há coisas estranhas que acontecem. A mim já me aconteceu, no passado, e sei que não sou um exemplo único. Por vezes, são as coisas mais estranhas que nos enervam naqueles contactos iniciais, outras vezes são simplesmente aspectos superficiais, ou um tique qualquer daquela pessoa que nos faz chegar à conclusão que o melhor é ficarmo-nos mesmo pela primeira saída juntos e não voltar a repetir a experiência, porque já não há condições para tal.

Eu, pessoalmente, lembro-me que havia algumas coisas que eram autênticos corta-pica para mim no início (de referir que este início de que falo são aquelas saídas iniciais, quando ainda não estamos apaixonados, mas estamos a conhecer a pessoa). Em primeiro lugar, para mim, se o homem em questão não tivesse nenhuma noção do que queria para o futuro, não tivesse nenhum objectivo (fosse qual fosse, podia ser dar a volta ao mundo, ou criar uma associação sem fins lucrativos), se não tivesse algo por que lutar, era um "NO-NO" para mim. Sabia que não conseguia estar com uma pessoa que pensasse dessa forma (pelo menos não em termos amorosos), embora saiba por experiência própria que todos passamos por umas fases assim. Sempre gostei de homens determinados e com sentido de humor, mais do que de homens bonitos, era o meu ponto fraco.

Depois, sempre tive algum problema com o excesso de pêlos, admito. E o pior era quando me apercebia disso! Se não houvesse mesmo outra coisa ali que me atraísse, geralmente era mazinha e cortava-me. A minha cabeça simplesmente não me deixava abstrair que o homem podia ser irmão gémeo do Chewbacca.

Uma terceira coisa que também não ajudava nada à festa, era ser uma pessoa complicada, do género daquelas pessoas que passam por muitas fases más na vida, que se entregam facilmente à tristeza, são instáveis e vivem muito na grey area, em vez de viverem na área multi-colour, como eu. Fugi sempre a sete pés de homens complicados emocionalmente e na única vez que não fugi, correu muito mal - vi a minha vida a complicar-se ao cubo, como nunca antes. No geral, sempre me virei muito mais para homens descomplicados e descontraídos, acho isso muito mais sexy do que o oposto.

Uma quarta coisa que me assustava eram mãos feias (algo muito semelhante ao meu problema com excesso de pêlos). Tive um problema grave com mãos que não considerava bonitas. Por vezes a pessoa em questão parecia um amor, mas no momento em que reparava que as mãos dele eram feias, tinha de me estar a controlar para não estar sempre a olhar para lá. Quando dava por mim, já não fazia ideia do que ele estava a falar, porque na minha cabeça o pensamento era outro: "Alerta: Mãos Mesmo Feias! Não olhes, que dás nas vistas! Oh pah, 'tás a olhar de novo! Isso é infantil e uma superficialidade! Não tem jeito nenhum! Shame on you! O que é que ele tá mesmo a dizer?! Fogo é que são mesmo feias…"

A verdade é que na maior parte dos casos acabei por não me dar uma segunda oportunidade para conhecer melhor estes homens. Não faço ideia se alguns deles eram fantásticos ou não. E algum deles poderia ser fabuloso… Uma amiga minha (não, não sou eu) é o exemplo de que algumas vezes estes pequenos constrangimentos iniciais podem ser um entrave à nossa felicidade.

A Carolina, em determinado momento, aceitou ir tomar café com um colega de trabalho que já andava a insistir há algum tempo para saírem juntos. Pois bem, lá foram, pois não é que ela cismou com a camisola do rapaz, que até era tão bom moço? Foi com a camisola e com o facto de ser um excelente filho (de acordo com o tipo de vida que levava), pelo que ficou a remoer no facto de que talvez ele fosse daqueles que pretendia morar com os pais até aos 50 (o que também não era verdade)… Não foi fácil ela superar estes bichinhos na cabeça dela. Foi necessária muita lavagem cerebral para a convencer a sair uma segunda vez com o moço dali a umas semanas (lavagem cerebral patrocinada aqui por mim mesma, que tinha um bom pressentimento em relação ao rapaz). Hoje estão casados e muito felizes. E o melhor de tudo, é que agora ela até olha para a tal camisola e já não desgosta da danada.

Para ela, atropelar os bichinhos na cabeça dela e ter saído uma segunda vez com ele foi óptimo. Será que não poderia ser assim para muitos de nós? Pelo menos, uma segunda saída não fará mal a ninguém e sempre dará para comprovar se aquele homem ou aquela mulher é mesmo um(a) NO-NO ou se será afinal um(a) YES-OH-DEAR-YES! :)



Beijo enorme.

A Menina dos Óculos

Tuesday 18 February 2014

Como?! Não te percebo!!

No emprego, na escola, ou em casa, um dos factores responsáveis por muitas discussões e mal-entendidos é mesmo a quebra ou falha na comunicação. Num casal, a ausência de diálogo bem sucedido e de comunicação efectiva podem ser, muitas vezes, a causa de ruptura emocional e desgaste da relação.

Vivemos na década da comunicação virtual, sempre ligados ao Facebook, ao Twitter e ao telemóvel. A maior parte dos meus conhecidos (eu e o Mr. Bubbly inclusivamente) já não vive sem o iPhone, sem o iPad, sem o iPod ou o laptop e não aguenta muito tempo sem conferir os estados dos amigos na página do mural, sendo que mais facilmente deixamos uma mensagem no mural deles, do que lhes ligamos para marcar um café durante o dias de semana. Numa cidade tão grande como Londres, é facto que durante a semana nem sempre é fácil estarmos com o nosso grupo de amigos (moramos na zona 2, em Clapham North, na zona sul de Londres) e temos alguns amigos que moram no norte, pelo que ao fim do dia, após horas no metro, não há grande vontade de nos enfiarmos de novo no metro, armados em toupeiras, para estarmos juntos. E basicamente costumamos juntar-nos ao fim-de-semana. 

O meu Mr. Bubbly, conhecido como o workaholic assumido do grupo, é o pior de todos, infelizmente. Este Sábado estávamos todos no Ice Wharf de Camden e ele estava de volta do telemóvel a falar com o D. de assuntos de trabalho, quando devia estar a conviver. Claro que todos o conhecem e sabem que é mais forte que ele, pois ele vive num ritmo fora do normal, mesmo para uma cidade como Londres.

Nas relações amorosas , porém, este tipo de falhas, se repetido continuamente, não é tão facilmente colmatado, por mais tolerância que haja. Dou por nós às vezes a tomar o pequeno-almoço e em vez de estarmos a conversar, estamos os dois agarrados ao telemóvel: ele a ver as notícias de futebol nos jornais Portugueses e eu de volta dos blogues. Claro que sabemos que isto é errado, e por isso, geralmente acabamos por ter uma conversa em que acordamos não tocar nos telemóveis à refeição ou à noite. Costumamos aguentar uns dias, mas confesso que estes acordos nunca duram muito tempo connosco.

Felizmente, no meio disto tudo, principalmente nas horas antes de ir para a cama e ao jantar conseguimos conversar e sinto que, no geral, apesar de termos muito para melhorar, não estamos num nível vergonhoso de falhanço comunicacional. Entendemo-nos à nossa maneira e conseguimos tirar o nosso tempinho para conversar todos os dias e partilhar o que nos apetecer ao final do dia. 

Há, porém, uma situação diferente que não se prende com a inexistência de diálogo (há pelo menos a tentativa), mas com a ineficiência do diálogo. Isso acontece, por exemplo, quando vivemos num ritmo alucinado e pensamos no que queremos dizer à pessoa, e na hora de o dizer, como estávamos a pensar nisso, assumimos naturalmente que já o dissemos (confundindo pensamento com verbalização). Apesar de ser algo aborrecido porque depois chegamos a um ponto da conversa em que parece que estamos a falar línguas diferentes, e ninguém se entende, este nem é o pior caso. O problema maior está quando se conversa com o companheiro e nenhum dos dois tem o tacto e bom senso para perceber qual o modo de abordar determinados assuntos e ou de dizer certas coisas, que podem ferir a sensibilidade e ser mal interpretadas. Por melhor que seja a intenção, este tipo de coisas, principalmente no início das relações, quando ainda não conhecemos a pessoa a fundo, pode complicar tudo. Este tipo de mal-entendidos pode deixar marcas se não houver um nível de tolerância de ambas as partes. De qualquer forma, com o passar do tempo é natural que este tipo de problemas se vá dissipando, à medida que o nível de cumplicidade do casal vai aumentando.

É normal que nem sempre nos apeteça estar horas a falar com o nosso companheiro, mas a verdade é que este é um hábito saudável que devemos alimentar. É comum que às vezes nos apeteça dar uma espreitadela no Facebook, quando estamos com amigos, mas isso não nos traz, efectivamente, nada de bom. Socialmente, bem como na nossa intimidade, a comunicação deve ser aprendida, incentivada, trabalhada, desenvolvida. Daí só surgirão coisas boas. 

No entanto, se for para conferirem as novidades aqui no blogue, confiram vá, mas em vez de lerem as minhas crónicas sozinhas, porque não lê-las com a amiga ou com o marido? Interesses (pessoais) à parte, até acho uma boa sugestão!

Miminho ainda do casamento! :)

Beijinhos, 

A Menina dos Óculos

Monday 17 February 2014

quem não desiste, sempre alcança...

Ao contrário de grande parte das pessoas, eu sou daquelas pessoas que, quando tudo corria mal e estava a sair de uma relação, apesar de desabar e ficar na fossa (como todos os comuns mortais que amam e sofrem), acreditava sempre lá no fundo que a minha pessoa havia de estar à espreita algures. A simples ideia de que o final de uma relação correspondia a uma vida de solidão forçada, sem a presença de um amor que me desse a mão na rua, ou um abraço num dia frio de inverno era mais do que o que eu poderia  aguentar (e queria acreditar). Curiosamente, não sou uma pessoa mega-optimista, desenganem-se, mas sou demasiado romântica para conseguir mentalizar-me que uma, ou duas, ou vinte más experiências são sinónimo de fracasso amoroso para a vida toda.

Quando há amor e uma relação amorosa termina, é normal que haja sofrimento. Por vezes, já não há sequer amor, mas a sensação de rejeição por parte da outra pessoa custa tanto (mais por uma questão de ego dorido), que temos a sensação enganadora que amávamos aquela pessoa e que sem ela o mundo não faz sentido. Nessas alturas, de facto, é mais fácil entregarmo-nos às nossas dores e enfiarmos na cabeça que não há no mundo a pessoa certa para nós, que essa já passou na nossa vida, mas estragamos tudo. E isso, meus caros, é a maior mentira pegada. As relações não são unilaterais, e quando as coisas correm mal, a culpa acaba por ser dos dois envolvidos na mesma. Além disso, e acima de tudo, não acho que a pessoa certa para nós (a tal, que nos ama loucamente, e é compatível connosco e tudo e mais  alguma coisa) nos deixe assim a meio do caminho. Afinal, se fosse mesmo essa a "nossa pessoa" (como gosto de lhe chamar) não era suposto acabarmos com ela?? Se não deu certo, é porque aquela pessoa não era "a nossa", e ponto final.

No entanto, apesar de não ser o ideal, no calor do momento, admito que essa sensação de que "o amor da nossa vida foi à vidinha dele e eu estou destinada a viver o resto da minha sozinha" é comum logo após um fracasso amoroso. O que é preciso batalhar acima de tudo é o persistir dessa sensação (que passa a crença) com o passar do tempo. Há pessoas que mesmo após anos de um amor não correspondido ou uma relação fracassada continuam a acreditar que não estão no mundo para ser felizes e que a sua cara-metade ou não existe ou deve morar na China. Porém, e embora seja fácil enfiar isso na cabeça, também não corresponde à verdade. Não podemos baixar os braços, ou atirar a toalha ao chão em tom de descrédito no amor. Há sempre alguém para nós. Provavelmente, há mais do que uma pessoa certa para nós, e quando ainda não encontrámos a nossa, cabe-nos estar abertos ao amor, predispostos a ser felizes e a aceitar a nossa felicidade. Se não estivermos sintonizados com o amor e a felicidade, como poderemos achar que algum dia encontraremos alguém que queira partilhar a sua vida connosco? Ninguém gosta da companhia de alguém que está de mal com a vida, de costas voltadas ao amor (e isso nota-se facilmente na primeira saída a dois, ou numa conversa casual).

Quem está de bem com a vida, predisposto a amar e a conhecer pessoas, fazer amizades, ser feliz, tem uma probabilidade gigantesca de encontrar o seu amor já ao virar da próxima esquina. Por isso, abre os olhos, talvez a tua pessoa esteja apenas a dois metros de ti e convém reconhecer essa possibilidade e abraçá-la se se concretizar. Afinal, nestas coisas do amor, a tua felicidade só depende de ti. Sempre.



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Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Saturday 15 February 2014

Pessoas que passam por mim… e ficam. #2

Era um Sábado de Dezembro e eu trabalhava num instituto de línguas, onde ensinava vários níveis de Inglês a pessoas dos 2 aos 80. Na sexta-feira anterior tinha-me sido atribuída uma turma de Inglês, que já tinha começado no instituto há alguns meses, mas por algum motivo tinha de substituir a professora com que tinham começado o ano.

A turma era heterogénea. Tinha uma adolescente a quem eu apelidava carinhosamente de "Little Genius", pelo seu entusiasmo e capacidade de reacção; tinha uma jovem determinada e sempre com ar (positivamente) opinador, tinha uma estudante de jornalismo com um ar inovador e criativo, tinha uma outra jovem com ar meigo e olhar terno e tinha um jovem engenheiro que se via nas horas para aturar tanta mulher. E depois havia aquela pessoa, que viria a ser tão especial para mim, e a ocupar um local na minha vida que é só seu e será sempre apenas seu. 

De cabelos castanho claros ondulados, muito compridos, meio embaraçados, e de olho azulão, pele clara como a neve e sardas, muitas sardas, ela tinha aquele ar de quem não se esforçava por se aperaltar. Na verdade, e ao longo do tempo, apesar de eu sempre ter envidado esforços para que ela se aperaltasse mais, e talvez nunca lho tenha dito vezes suficientes, ela é linda tal como é, e naquele dia, toda desgrenhada e com ar descuidado, estava maravilhosa. Tinha um ar tímido, era insegura no gesto, mas sorria muito para mim. Foi a aluna que me acolheu melhor naquele dia, que me abraçou com o olhar, apesar de a turma ser fabulosa, e  de todos eles terem sido um amor. No entanto, é sempre complicado pegar a meio do ano numa turma que estava habituada a outra professora - o objectivo nunca pode ser substituir, porque somos todas diferentes, e não deixamos a personalidade fora da sala, mas sim, fazer o melhor que conseguimos. E ela acolheu-me na sua insegurança, apertou-me sem abrir os braços. 

Ao longo da aula, notava-se que ela se esforçava por falar, por ser divertida, por se integrar. Estava na casa dos 19, se a memória não me falha, e embora não conseguisse disfarçar a sua insegurança na hora de se exprimir, tinha qualquer coisa de absolutamente maravilhoso que me tocava, que me apelava às emoções. Ela tinha jeito para o inglês, embora não fosse a melhor aluna da turma, e as notas demonstravam-no. Lembro-me que era aluna de B, mas um B nada tímido, ao contrário dela. A turma era forte, era uma excelente turma, com excelentes alunos, um excelente ambiente, daquelas que não se vê com frequência, principalmente quando se trata de uma turma com adolescentes e jovens misturados.

O tempo foi passando, e eu sentia-a triste. Sentia-a só. Como professora, sempre tentei ser interventiva, principalmente em idades ainda tenras, em que sentia que podia dar algum contributo para orientar positivamente os alunos, e tive imediatamente vontade de perceber quem era aquela pessoa e como poderia ajudá-la. Um dia tive de abandonar a escola e deixei a turma. Deixei-a também a ela lá na escola, supostamente. Curiosamente, ela ficou na escola, mas a nossa amizade cresceu fora da escola e transformou-se em algo que, sei, nunca vai ser abafado. 

Hoje somos parte integrante da vida uma da outra, e qual professora (uma vez professora, sempre professora), ainda dou por mim a tentar ensiná-la com alguma frequência, mas agora a matéria já não inclui o Past Perfect, nem os Phrasal Verbs.  Ela era a aluna e eu a professora, mas felizmente temos feito o nosso caminho juntas, e confesso que também aprendi algumas das mais valiosas lições com ela. 

Em Chinatown. E sim, ela agora é ruiva. :)
Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Friday 14 February 2014

Surpreeeeesa!

Neste Dia de São Valentim, que também marca o nosso segundo aniversário de casamento (civil) e o nosso segundo mês de casamento religioso, deixo-vos o teaser do último, um vídeo cheio de romance (claro está) que tenho todo o gosto em partilhar convosco, neste dia dedicado ao amor.

Tal como disse ao Mr. Bubbly, admito que é estranho ver-nos assim de fora. Não fazia ideia de que isto somos nós, mas ainda bem que somos assim. Não quereria que fôssemos um bocadinho de nada diferentes, porque não sendo perfeitos, tal como somos, somos perfeitos um para o outro.

E vocês, amem-se muito e divirtam-se hoje! Feliz Dia de São Valentim!

True love from V&N | teaser from Os Tais on Vimeo.

Aproveito para dizer que o vídeo (que a meu ver está fantástico) é dos Tais do Vídeo. Para ficarem a conhecer o seu trabalho, visitem a sua página de Facebook clicando AQUI. São absolutamente maravilhosos. :)

Beijo grande para todos,

A Menina dos Óculos

Thursday 13 February 2014

"Socorro! A minha relação está em crise!"

Todas as relações passam por fases menos boas, nada novo até aqui. Isso deve ser considerado normal, e não deve ser percepcionado como se fosse o fim do mundo. No final de contas, se a relação tiver bases sustentadas, a crise não passará disso mesmo, uma crise, e a relação persistirá crise após crise.

Antes de mais, há que analisar o modo como as crises se podem manifestar (até porque, digo eu, é bom que saibamos que estamos com um problema em mãos que temos de resolver, porque ignorar essas fases não costuma ser a melhor solução - o que pode terminar, quase inevitavelmente, em separação). Em todas as minhas relações, olhando para trás, já tive crises que se manifestaram das mais variadas formas: um maior (ou total, nos piores casos) desinteresse no parceiro (a todos os níveis que possam imaginar),  múltiplas discussõezinhas de caca diárias, por causa de tretas que não lembra ao diabo, súbito interesse noutra pessoa do sexo oposto (este aqui, se se desenvolver para traição, bem que podem apostar na separação certa, e sem nada a fazer para mudar esse triste final, porque depois da primeira traição, está o caldo entornado e, a meu ver, a relação já não pode ser salva), falta de assunto de conversa entre o casal, entre outras que não me estou agora a recordar. Tudo isto são sinais que devem ser considerados como um alerta para o casal ter uma conversa e tentar encontrar uma solução para o seu problema.

A partir do momento em que a relação foi diagnosticada com "crise aguda", penso que a única solução é reconhecer o que nos levou até aí. Geralmente é a falta de tempo para dedicar à relação e à outra pessoa, falta de tolerância, falta de amor e/ou outra pessoa que entrou na sua vida - e nestes casos, não há nada a fazer -, ou até as rotinas estarem excessivamente instaladas na vida diária do casal. O casal reconhecer os seus erros e pedir desculpa por eles (desde que de forma sentida), comprometendo-se a mudá-los (desde que os mude mesmo) é sempre um passo importante para superar os problemas.

Para isso, o casal terá de tratar da relação como se se tratasse de um bebé, acarinhá-la, alimentá-la, limpar a sujeira quando ela surge (com miminhos e um reconhecimento de que se fez asneira). Um truque que acho de génio é tentar fazer o máximo de coisas juntos, divertindo-nos no processo, como por exemplo, cozinhar juntos; ouvir uma musiquinha especial e dançá-la como casal, mesmo que seja no quarto, no metro, ou no restaurante (seja onde for, basicamente); preparar uma ou outra surpresa, como uma viagem de fim-de-semana para algum local surpresa, ou comprar bilhetes para um concerto de uma banda com significado na história dos dois; enviar mensagens atrevidas ao longo do dia para apimentar o clima; preparar um jantarzinho íntimo surpresa para a cara-metade; aparecer de surpresa no trabalho ao fim do dia com um ramo de tulipas (para a mulher) ou com uma garrafa de martini ou whiskey (para o homem). Idealmente, este tipo de atitudes devem surgir não apenas nos momentos de crise, ou no Dia de São Valentim, mas deveriam ser parte natural da relação.

Enfim, há imensas coisas que podemos fazer, se assim tivermos vontade. Acima de tudo, amando, há vontade de resolver as coisas, e se ainda por cima, houver compatibilidade e cumplicidade, penso que a relação superará tudo apenas com um penso rápido. Por vezes, estas crises são até muito benéficas, e são mesmo o que precisávamos para nos obrigar a sair da rotina e para nos obrigar a equacionar quão importante é a nossa relação na nossa vida, e o quanto estamos dispostos a fazer para salvá-la. Depois de uma situação destas, a relação fortalece e o casal cresce.

Alguém precisa de um penso rápido? :) Boa sorte!



Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Wednesday 12 February 2014

Bora juntar os trapinhos?

Sou daquelas pessoas que já tiveram opiniões muito diferentes acerca deste assunto. Hoje, enquanto almoçava, falava com uma amiga acerca deste assunto e pareceu-me o tema acertado para vos trazer hoje.

De facto, tomar a decisão de juntar os trapos e ir morar juntos pode trazer muitas complicações numa relação. De repente tudo muda. E geralmente, também é nesta fase que o número de discussões agrava, se não houver tolerância e bom senso de parte a parte. Para alguns casais, esta decisão é muito bem pensada e envolve todo um planeamento ao pormenor. Lembro-me que comigo e o Mr. Bubbly, aconteceu tudo ao contrário (como tudo o resto, aliás, na nossa relação) - não houve cá meses a planear coisa alguma, simplesmente tiramos bilhetes um dia para nos mudarmos para Londres e não equacionamos se ia correr bem ou mal, limitamo-nos a correr o risco e  confiar que no final ia correr bem (e correu), porque nos amávamos muito. Tudo isto aconteceu quando apenas namorávamos há um ano e três meses. Evidente que esta história parece uma loucura, mas a verdade é que não poderia ter corrido melhor. E isto leva-me a concluir o primeiro ponto: não há regra que determine o momento específico em que um casal está pronto para assumir uma decisão desta dimensão. O momento somos nós que o fazemos, não apenas porque amamos muito o namorado, mas porque temos maturidade e estamos numa relação madura para dar um passo destes.

Todos devemos conhecer casais que terminaram relações de anos após terem ido morar juntos. E isso não acontece, a meu ver, porque os casais deveriam ter casado primeiro, mas porque provavelmente não era o momento certo em termos de maturidade do casal e da relação em si, ou porque, simplesmente o casal não era compatível. Temos de concordar que ter de levar com uma pessoa a toda a hora, e com os seus defeitos em acréscimo, nem sempre é fácil. Exige paciência, tolerância, capacidade de adaptação e muito amooooooor! Sem esses factores, a probabilidade de não correr bem é grande, meus caros, muito grande.

No meu caso, morar com o Mr. Bubbly correspondeu mais a ter de levar com a roupa espalhada pela casa, com os sapatos fora da sapateira, com as mochilas, bolas de futebol e chuteiras distribuídas carinhosamente pelo marido pelas diferentes divisões da casa (dou por mim a pensar se ele não faz isso para me obrigar a jogar a uma espécie de Caça ao Tesouro pela casa toda). Confesso que me tira do sério. Confesso que me apetece partir tudo às vezes. Afinal, não entendo muito bem porque é que ele pousa os sapatos ao pé da sapateira e não nela. Não percebo porque deixa a bola à entrada da casa de banho, o casaco na cozinha e a mochila no sofá. Tenho dificuldade, mas admito que com o passar do tempo ele tem vindo a entender a importância que dou a ter a casa minimamente arrumada, e tem vindo a fazer esforços consecutivos no sentido de melhorar este tipo de comportamentos.

Para quem não tem tido muita sorte neste campo, partilho convosco a técnica de uma amiga minha, que vos apresentei aqui, e tinha o mesmo problema. Ela foi mais esperta e usou de uma artimanha para fazer o marido perceber-se que não podia deixar as coisas espalhadas pela casa. E o facto é com ela resultou. Experimentem: sempre que ela via um casaco do marido pendurado fora do seu local devido, atirava-o discretamente para o chão, sem que ele se apercebesse. Se fossem umas calças na cadeira ou uma camisa no sofá, fazia o mesmo, atirava tudo para o chão. O marido não entendia o que se passava, e não suspeitou de nada (tadinho do Bamby, a verdade é que ele é um amor) e começou a queixar-se, como se a culpa fosse dele: Não entendo o que se passa, eu penduro a roupa e ela aparece-me sempre no chão!, ao que a minha amiga respondia: Se a colocasses no cesto da roupa suja, não caía ao chão e sempre se sujava menos! O facto, meus caros, é que tem vindo a resultar. Experimentem.

Uma outra questão que muitas pessoas levantam e que também eu, quando era mais nova, levantava, era se não era melhor casar primeiro e só depois juntar os trapinhos. Sinceramente, ter casado em termos da nossa relação não mudou nada. Porém, eu sou católica e sempre quis que a minha relação fosse abençoada aos olhos de Deus. Foi isso que mudou, apenas. No que diz respeito à nossa ligação, à nossa forma de viver a relação, ao amor que nos une, à nossa paciência um com o outro, não sinto (e sei que falo pelos dois) que nada se tenha alterado. Como é óbvio, cada caso é um caso, mas se houver amor (amor à séria, digno de um filme), acredito que Deus abençoe de qualquer forma. Para quem não é católico, essa questão nem sequer se põe. No entanto, posso dizer também que o meu casamento pelo civil não mudou absolutamente nada (há quase quase dois aninhos) para o que tínhamos antes. Foi apenas o "colocar de tudo no papel" que mudou.

Por isso tudo, se acharem que está na hora, e que a vossa relação está no ponto e estão prontos para dar esse passo, porque não? Independentemente de serem apenas namorados, estarem a considerar casar por civil ou pela igreja, o mais importante é serem compatíveis e amarem-se. Por vezes, é isso que está a faltar a uma relação. E, se não for para dar certo, sejamos sinceros, quanto mais cedo descobrirmos, melhor. Afinal, adiar a nossa felicidade nunca é boa opção.

Sejam felizes e juntem os trapos!



Beijinhos,

A Menina dos óculos

Tuesday 11 February 2014

All you need is Love - ON or OFF?

O Dia de São Valentim é para a grande parte dos casais um dos dias do ano em que estes se esforçam em particular por mimar muito a sua cara-metade. Há quem ache isso tudo uma piroseira pegada (isso e mais a parte de toneladas de corações a enfeitar tudo, desde o papel de embrulho da prenda até aos coraçõezinhos em purpurina dentro da caixa do presente). Há quem adore precisamente isso: os coraçõezinhos, os miminhos, os presentes, os chocolates e muito mais. Depois há os outros, como eu, que celebram o 14 de Fevereiro não apenas porque é o Dia de S. Valentim, mas também porque será o 2º aniversário do seu casamento civil nesse dia, ou seja, o dia tem uma dimensão bem diferente para mim, do que terá para as outras mulheres.

As pessoas que detestam esta data costumam usar como argumento que é porque uma data é apenas isso mesmo, uma data, e o amor não se exprime num dia ao ano, quem ama, ama todos os dias, e deve exprimi-lo sempre, sem datas marcadas. E eu até concordo com esse argumento, para ser sincera. Porém, entendo que para as pessoas que têm vidas muito agitadas, que correm o dia todo de um lado para o outro, e mesmo assim estão numa relação (todos temos direito a isso, desde que a pessoa ao nosso lado respeite e aceite o nosso ritmo de vida) às vezes ter o peso de uma data que as obrigue a acordar e parar para dar uma atenção especial ao seu mais-que-tudo, ajuda. Funciona quase como um despertador, um alarme como que a dizer Hei, amiga, se calhar já abrias uma excepção hoje e davas aquela atenção especial ao marido! Podias por exemplo adiar o teu compromisso das 6 e chegar a casa mais cedo hoje e preparar uma surpresinha… Penso que para essas pessoas, por vezes uma data destas obriga a pessoa (e o casal) a sair da rotina, e convenhamos, nem sempre é fácil conseguirmos fazer isso sem peso na consciência (se isso implicar gastar rios de dinheiro numa surpresa romântica - não me refiro a presentes materiais, mas algo como uma viagem surpresa a um local de sonho num fim-de-semana, por exemplo, ou até, se nos obrigar a falhar no trabalho ou ter de adiar um ou dois compromissos para fazer uma surpresa ou, simplesmente, estar mais um bocadinho com a pessoa que partilha a vida connosco). Além disso, diz-me a minha experiência pessoal que tudo o que seja sair da rotina é extremamente benéfico para a vida e longevidade do casal, apesar de não ser passível de ser feito numa base diária.

Para quem já adora o dia, não há muito a dizer, eu aconselhava apenas à moderação no uso dos rosas, vermelhos, purpurinas, corações. O Dia de São Valentim não tem de ser piroso - um ou outro coração não faz mal a ninguém, se for uma brincadeira, ou uma surpresa querida homemade. A questão é mesmo não abusar na dose.

De resto, eu cá acredito que, se o que quer que seja nos faz felizes, é para viver e aproveitar ao máximo, independentemente da opinião dos outros. E se for um dia extra de miminhos e atenção redobrada ao nosso namorado ou marido, tudo certo também. Já diziam os Beatles, All you need is Love! - Totally ON! :)


e pronto, está esgotado o nosso stock de corações! isto sim, é moderação! :P ahahahah!


Beijinhos,

A Menina dos Óculos


Monday 10 February 2014

Qual é o sexo forte?

(Uma vez que hoje estou atarefadíssima de volta do trabalho para o jornal Hora H, um jornal Português aqui em Londres, para onde escrevo e faço trabalho de edição e revisão, já sei de antemão que hoje não vou ter tempo para escrever novo texto aqui para o blogue. Por esse motivo, seleccionei um texto que já foi publicado no Hora H em 2013. O tom ao longo do texto é diferente do habitual, uma vez que faz parte da coluna "Guerra dos Sexos" do jornal, em que tenho de me debater com o "Um Ganda Homem", um personagem machista. Os homens a que me refiro no texto são precisamente exemplares dessa espécie (por isso nada de generalizações. :P)

A primeira vez que me colocaram tal questão, deduzi que só poderia tratar-se de uma interrogação retórica. A resposta a essa pergunta está aos olhos de todos, a meu ver. Enerva-me que aos olhos de muito homens, as mulheres ainda sejam “as fracas”, “as dependentes”, “as frágeis” e “coitadinhas”. E por isso, considero que está na hora de dizer umas boas verdades, por mais que não seja como forma de tributo a todas as mulheres valentes que lutaram até hoje pela nossa igualdade de direitos. 

 inúmeras evidências que confirmam a nossa força, na realidade. Comecemos pela mais básica: somos nós, mulheres, a dar à luz, e nessas horas o nosso corpo suporta dores inimagináveis, agonizantes, supostamente insuportáveis. E como é que nós reagimos? Uma mulher reage com força, com coragem, e com amor, pois a sua preocupação é apenas o seu filho. A mulher é generosa, é altruísta e é, acima de tudo, mãe. Já certos homens, quando se picam numa agulha é um “Valha-nos Deus, que estou a morrer!”, imaginem agora se fossem eles a ter um bebé - a hora do parto seria anedótica, no mínimo.

Para além disso, a sociedade acabou por exigir de forma indireta que a mulher seja forte, dado que acarreta diversas funções simultaneamente. Uma mulher é/pode ser mãe (o que por si só é um trabalho a tempo inteiro), trabalha fora de casa, trata da lida da casa, vai às compras e faz tudo o que o marido não faz – isto quando está numa relação, pois cada vez mais esta opta por apostar na sua carreira e viver de forma totalmente independente, sem nenhum macho à perna para lhe trazer dores de cabeça ou atrapalhar o seu sucesso profissional. Vejamos, alguns homens (evidente que há exceções a isto) funcionam mais na  base do “Eu já trabalho muito no escritório e isso deixa-me esgotado para te ajudar nas lides domésticas, ou para ajudar o Francisquinho com os trabalhos de casa, faz lá isso tu, que eu agora estou a ver a final da Liga Europa e não posso perder isto”. Significa isto que o trabalho destes homens resume-se ao que fazem durante as 8 horas em que trabalha na empresa, depois disso é cruzar a perna e esperar que as mulheres (ou mães, mulheres também) tratem do resto. Vejam lá como eles são fortes e rijos! Ficam cansadinhos com 8 horas de trabalho. Pois, caros homens, fiquem a saber que a mulher tem de ser uma excelente gestora de tempo se quiser chegar à noite e cruzar a perna para poder ler um livro de forma tranquila.

Como se tudo isto não chegasse, a mulher tem de estar sempre elegante, bonita e bem tratada. A sociedade impôs um determinado estereótipo de beleza, que muitas de nós acabámos por adotar, o que aumenta muito o peso que temos sobre nós, visto que se uma mulher não se enquadra no dito padrão de beleza, o mundo vira-lhe as costas. A partir daí, há dois tipos de mulheres: as que se estão nas tintas para o que a sociedade machista lhes dita que é “ser-se bonita” e as que por motivos profissionais ou pessoais acabam por seguir esse padrão, o que as torna ainda mais exigentes em relação a si próprias. Por seu lado, o ritual diário de beleza do homem comum resume-se a passar um pente no cabelo e colocar o desodorizante de manhã, isto se não for um troglodita, que também há muitos desses por aí. Evidente que as coisas estão a mudar, e os homens cada vez mais sentem a pressão imposta pelo meio para serem mais bonitos e mais cuidados. Porém, no caso das mulheres, esse peso sente-se desde que nascemos.

Para finalizar, a mulher trava uma luta diária para ser perfeita em todas as áreas da sua vida e teve de lutar arduamente por todos os direitos que conquistou até hoje, e isso, por si só, torna-nos mais fortes, as mais fortes. Infelizmente, ainda há muitas de nós a sofrer pelo mundo fora, por serem vistas como inferiores ou incapazes, e hoje gostaria de dedicar a minha crónica a todas essas mulheres. Que sejam cada vez menos e que, juntas, sejamos cada vez mais fortes. Um grande “Bem haja” a todas nós!

80s Girl Power

Starbucks Party!


Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Saturday 8 February 2014

to let go #2

Há uns meses li em determinada revista um artigo que me fez pensar. O artigo falava acerca de ser natural os caminhos dos amigos se separarem. Explicava que quando os caminhos tomavam direcções muito diferentes, não valia a pena insistir e apenas devíamos aceitá-lo como algo que acontece naturalmente na vida. Inesperadamente, há dias tive uma epifania e percebi o significado da mensagem daquele artigo.

No momento em que o li, achei aquilo uma patetice pegada. Dei por mim a matutar nas minhas amizades mais próximas, e na minha cabeça era inconcebível que por mais que os nossos caminhos se distanciassem, as nossas vidas parassem de se cruzar em alguns momentos. Pensei por exemplo no caso das minhas amigas mais chegadas, algumas das quais infelizmente estão longe de mim. Apesar dos nossos caminhos tão distintos (e distantes), isso não diminuiu a intensidade do que nos une. A saudade simplesmente aperta mais, e mesmo quando não consigo falar com elas com a frequência de antigamente, sei que se precisar às 5 da manhã, elas vão estar lá para me atender a chamada no Skype. E vai ser exactamente igual, como se nada tivesse mudado, como se tivéssemos parado no tempo, e recuássemos 10 anos. No fundo, o meu conceito de amizade, que construí desde muito nova - podem constatar aqui e aqui os alicerces da minha noção de amizade - é bastante rigoroso, e não deixa margem para muitas falhas, pelo menos no que diz respeito à parte emocional. Aqueles amigos, que são mesmo amigos, não precisam de me ligar todos os dias, ou nem mesmo todas as semanas, porque para mim, eles vão estar lá, e a nossa ligação é mais forte que a distância, a divergência de opiniões em determinadas matérias, a falta de tempo.

No entanto, há amizades e amizades, não haja dúvida. E com o passar do tempo, desde que li o dito artigo, apercebi-me que isso faz toda a diferença. Há amizades de que, simplesmente, não se abdica, há amizades de que custa muito a abdicar, há outras que se vão auto-destruindo aos poucos por vários motivos, e que, naturalmente, deixam de ser o que foram outrora. O que aprendi foi que, neste último caso em particular, não vale a pena lutar contra isso. Não vale a pena fazer um esforço. Não vale a pena não porque não queiramos, não porque não tenhamos força, não porque não sejamos tolerantes ou não consigamos perdoar, mas porque nada vai mudar o facto de que a ligação emocional que tínhamos foi destruída, está corroída, e as coisas não voltam naturalmente a ser iguais ao que eram.

Por vezes, as pessoas que menos imaginávamos capazes de ser nossas amigas, acabam por ser aquelas que descobrimos que valem a pena. Por vezes, as pessoas de quem gostávamos, deixam de valer a pena, não porque sejam más pessoas, não porque sejam pessoas de quem já não gostamos, mas porque já não faz sentido. A vida tem destas coisas, e faz parte do nosso processo de aprendizagem e crescimento (sim, apesar de já sermos todos crescidinhos) aceitar isso, respeitar e seguir em frente, sem rancor, sem mágoa, sem tristeza. Quando assim é, resta-nos  dar um passo em frente, fortalecer e cuidar das amizades fortes de sempre e descobrir as amizades do nosso amanhã.

e antes que se questionem, ainda não está a nevar em Londres - a foto é do ano passado.


Um beijinhos enorme, Bubbly Buddies, e amizadem muito, sim?

A Menina dos Óculos

Friday 7 February 2014

to let go...

Todos nós passamos por maus momentos em determinadas relações, que eventualmente acabariam por terminar. Porém, nem sempre é fácil libertarmo-nos da outra pessoa, ou pior ainda, libertá-la… Eu já passei por isso, os meus amigos já passaram por isso, penso que todos tivemos desses momentos.

Nestes casos, as palavras de ordem são sempre "Dignidade", "Consciência" e "Amor-Próprio".  A dado momento da minha vida decidi que nunca mais manteria uma relação por comodidade camuflada. Decidi que apenas vale a pena manter uma relação e lutar por ela enquanto continuamos apaixonamos, enquanto amamos, enquanto conseguimos fazer o outro feliz e conseguimos ser felizes ao lado dele. Decidi que queria acordar todos os dias da minha vida apaixonada, pela vida, pela pessoa ao meu lado. Decidi que no dia em que acordasse e não estivesse apaixonada pelo meu namorado, não valia a pena manter a relação só porque sim, porque dava jeito, porque já estava habituada a essa pessoa. Decidi que essa não era a mulher que eu queria ser, e esse dia mudou a minha vida. Passei a não dar nada por garantido, passei a colocar-me em primeiro lugar e ser consciente em relação à minha decisão de manter ou não uma relação diariamente. Claro que não equaciono diariamente se vou terminar a minha relação com o Mr. Bubbly, mas também é certo que todos os dias acordo apaixonada por ele, pelo que não preciso de equacionar coisa alguma.

Contudo, momentos houve no meu passado amoroso em que assim não foi. E um dia, acordava sem a mesma vontade de estar com aquela pessoa, ou porque ela me tinha desiludido imenso, ou porque simplesmente, já não havia a mesma paixão e o que tinha sobrado tinha sido uma boa amizade e respeito. Numa primeira fase da minha vida, desleixei-me e entreguei-me à comodidade de manter a relação. Após alguns tropeções amorosos e relações falhadas, descobri que estava errada e que tinha de alterar esta atitude comodista. A partir desse momento, não deixei as relações controlarem a minha vida, mas passei eu a controlar o meu papel nas relações em que estava.

Quando o nosso companheiro decide terminar connosco é horrível, principalmente se não estamos à espera e vivemos numa bolha sem nos apercebermos do que realmente se passa. Como disse antes, há que manter a nossa dignidade, sempre acima de tudo. Se custa?! Custa. Tive finais de relações em que tive a sensação que me estavam a cortar ao meio, literalmente. A dor por vezes é tão dilacerante, que pensamos não ser capazes de lhe resistir, que parece que não vamos sobreviver. Pois bem, isso são pensamentos patetas. Claro que sobrevivemos a isso e a muito mais. E aquilo de que nunca devemos duvidar é que no final vamos ser felizes, se não for com aquela pessoa, será com outra. E mai' nada! Há que enfrentar estas situações com um nível razoável de optimismo em relação ao futuro, com dignidade e sem nos entregarmos à humilhação. Isso de correr atrás da outra pessoa como se fôssemos cachorrinhos, não a vai fazer amar-nos mais, muito pelo contrário.

Quando, pelo contrário, somos nós a terminar a relação, porque já não amamos o nosso companheiro da maneira que achamos que deveríamos amar, temos de fazê-lo com sinceridade e respeito. Temos de pensar que estamos a libertar aquela pessoa para que ela seja feliz de novo, para que ela seja feliz ao lado de alguém que lhe possa retribuir na mesma dimensão. Claro que também há aqueles casos em que devemos terminar porque ainda amamos aquela pessoa, mas ela nos está a destruir. Nesses casos, os piores, a meu ver e por experiência própria, temos de manter na cabeça que nós é que vimos em 1º lugar e que não podemos estar ao lado de alguém só porque amamos a pessoa. Como já constatei aqui, isso não é suficiente para manter uma relação saudável.

Em todo o caso, temos de nos respeitar e respeitar as decisões da outra pessoa, mesmo que nos magoem, e temos de colocar a nossa dignidade, consciência e amor-próprio sempre à frente do nosso egoísmo de querer manter uma relação "só porque dá jeito", ou porque "ainda amamos tanto". Vejam o meu exemplo, já bati com a cabeça, já tropecei, já caí de precipícios, já me atirei de cabeça - e a piscina estava vazia - (sou basicamente o coiote e o papa-léguas são os meus fracassos amorosos - já têm mais ou menos a ideia, não?), mas estou aqui, sobrevivi, e sou feliz, porque nunca desisti de encontrar a minha pessoa. E até ver, acho mesmo que já a encontrei.



Beijinhos,

A Menina dos Óculos

Thursday 6 February 2014

futuro a 2...

Antes de conhecer o Mr. Bubbly, embora apoiasse sempre os meus ex-namorados em todos os seus projectos profissionais e na realização dos seus sonhos (ora aí está um mal que, com certeza, nenhum deles me poderá apontar), tinha como prioridade a concretização dos meus objectivos e aí sim, depois vinham os projectos deles, que eu apoiava também a 100%. Até que ponto é que lutar pelos objectivos da nossa cara-metade significa abdicar dos nossos? É justo que o façamos?

Quando o conheci, ele era um homem cheio de vontade, com potencial para alcançar tudo o que desejasse, mas com muito pouco incentivo, com pouca força de vontade para dar o salto que precisava. Como penso que sabem, ele é professor de educação física, mas treinador de futebol de corpo e alma e acima de tudo. O homem respira futebol, come futebol, bebe futebol, nunca vi tal coisa. O nosso primeiro ano juntos, segundo o que ele diz, foi o ano mais complicado da sua vida profissionalmente, precisamente porque teve de se dedicar mais às aulas, que ao futebol, e isso para ele é mais que motivo para ficar deprimido. E penso que será assim para cada um de nós, quando temos de abdicar de algo que amamos muito. Claro que ele me apoiava muito, em tudo, mas ele não andava bem. Por mais que eu tentasse, nada o animava, e as propostas para treinar equipas em Portugal também não eram compensatórias. Foi nessa altura que eu lhe dei o empurrão que ele precisava e lhe falei da possibilidade de virmos para Londres. Evidente que abdiquei de tudo o que tinha lá, e não foi só por ele, foi por nós. Cá, ele já alcançou muitos dos seus objectivos e aproxima-se perigosamente de dar mais um salto num futuro próximo. E a mim, cabe-me apenas ficar orgulhosa.

A questão que se coloca aqui é, obviamente: Mas e eu? Eu que abdiquei de tudo em detrimento desta experiência? Não minto quando digo que há pessoas, há coisas que me deixam saudades em Portugal. Sinto saudades da família, dos amigos, das minhas cadelas, do trabalho que fazia em Portugal. Porém, abdicar disso tudo, fez-me valorizá-las e obrigou-me a ver tudo por outra perspectiva. Não sinto que tenha abdicado de tudo por ele, sinto que o fiz por nós. Aqui em Londres também estou a obrigar-me a desenvolver os meus maiores sonhos e projectos que tinha negligenciado, e o melhor de tudo, é que tenho tido o apoio incondicional do meu Mr. Bubbly, que me apoia a cada passo dos meus projectos.

Nós temos sonhos e objectivos diferentes, tal como todos os casais têm. Acima de tudo, é importante que os sonhos e projectos não se confundam e que não fique o sonho de um no caminho, para que o do outro se concretize. Por vezes, nem sempre é fácil conseguir tudo ao mesmo tempo, o que não significa que com paciência não cortem os dois no final a meta. No amor, tal como em tudo na vida, é necessário que se acredite, que se sinta apoio e que nunca se desista. E é precisamente isso que nós fazemos.




Beijinho grande,

A Menina dos Óculos

Wednesday 5 February 2014

A Menina dos Óculos no País dos Cheiros #1

Nunca me considerei uma pessoa de olfacto apurado. De facto, conseguir sequer sentir os cheiros (a menos que se trate de perfumes, ou sejam aromas muito fortes) costuma ser complicado para mim. Esta semana estava a fazer uns cinnamon swirl rolls e a coisa ia correndo mal, porque só faltava aquilo pegar fogo, que eu estava no quarto do lado e não senti cheiro nenhum - para terem noção da nulidade que é o meu nariz. No entanto, há cheiros que nem o meu nariz conseguiu ignorar ao longo do tempo. E  por isso, o surgimento desta nova rubrica no blogue, "A Menina dos Óculos no País dos Cheiros", que se propõe ser uma viagem ao longo dos aromas que até o meu nariz (quase) inútil conseguiu distinguir ao longo da minha vida.

Capítulo I
A Aldeia das Merendas

Era pequena, tanto em tamanho como em idade, e tinha acabado de chegar a este novo colégio, que seria o mais próximo que eu viria a ter de um jardim de infância (já vos falei dele aqui). A educadora era uma bruxa má - qualquer semelhança com a Rainha de Copas não é mera coincidência - e eu, não habituada a ter tanta criança à minha volta, estava perdida no meio da confusão. Sentia que tinha sido atirado para o meio da arena, e que todos não passavam de leões a olharem-me de forma estranha. 

Cheirava a cola e tintas - o cheiro era familiar e eu gostava de trabalhos manuais, por isso, aos poucos comecei a ambientar-me. O primeiro a aproximar-se de mim foi um menino, cujo nome não me lembro, mas pelo nível de loucura (gosto mais de lhe chamar "criatividade"), que viria a descobrir se equiparava ao meu, poderia bem ser o Chapeleiro Louco. 

As meninas eram praticamente todas o oposto de mim, brincavam com bonecas, aos "médicos" e às "casinhas"e ficavam-se por aí mesmo. Lembro-me da minha inimiga-mor, que se chamava Rita dos Caracóis. De facto, tinha o cabelo encaracolado e usava sempre dois "pitotos", um de cada lado da cabeça. Para minha desgraça, era muito maior que eu (o triplo) e adorava infernizar-me a vida, porque eu era diferente e não tinha grande vontade de brincar com o Grupinho da Rita. Havia também o Diogo, o meu outro rival, que era o Queixinhas da sala e usava sempre meias brancas com riscas azuis no topo até ao joelho, e calções vincados, com um pólo a completar o conjunto (só alternava a cor). 

Eu e o Chapeleiro Louco ignorávamos todos, e vivíamos no nosso mundinho à parte, passávamos horas nas colagens, nos puzzles, na biblioteca, ou a jogar futebol em cima da mesa das colagens, com quatro latas de lápis de cera a marcar duas balizas de cada lado da mesa, e com um papel usado que tinha sobrado de alguma colagem, a servir de bola (o que nos valeu vários castigos da Rainha de Copas, que não achava graça nenhuma a estas brincadeiras). 

Depois das brincadeiras, rapidamente chegava a hora da merenda, e aí começava o meu pesadelo. Eu era aquele tipo de criança que nunca tinha fome (para mal da minha mãe, que se debatia para que eu comesse duas bolachas). Em casa, sempre que me cheirava a comida, tinha vontade de chorar, porque já sabia que hora da refeição era sinónimo de me tentarem empanturrar, ou de ficar horas sentada na mesa "até comer tudo o que tinha no prato". No colégio, a hora da merenda era ainda pior. Todas as crianças levavam uma lancheira a abarrotar de comida. Os cheiros por si só aterrorizavam-me. Era o cheiro forte da banana (que eu detestava), era o cheiro do chouriço no meio do pão, era o cheiro do iogurte, ou da tangerina que esguichava sumo para todos os lados. Todos os cheiros misturados faziam-me tremer das pernas. O Chapeleiro Louco ainda se oferecia para me ajudar a comer o conteúdo da minha lancheira para que não ficasse de castigo, mas a Rainha de Copas não o permitia, a malvada. Acabava por dar uma trinca no meu pão de leite e beber um gole do meu leite achocolatado, e mais que isso deixava-me, inexplicavelmente, com vómitos. Como devem calcular, a Rainha má não deixava isso passar e obrigava-me a ficar de castigo dentro da sala e a perder o recreio, dia após dia. O Chapeleiro Louco sentava-se sempre ao meu lado, em silêncio, até que a Rainha o obrigava a sair da sala para brincar. Ele ia, cabisbaixo, com a passada pesada de quem não queria abandonar a sua Menina dos Óculos. 

No final do colégio, despedi-me dos cheiros (e castigos) na hora da merenda, do cheiro dos corredores da escola, do cheiro da nossa sala. Despedi-me também do Chapeleiro Louco. Tenho saudades dele.



Beijinhos e esperem pelos próximos capítulos,

A Menina dos Óculos

Tuesday 4 February 2014

Pessoas que passam por mim… e ficam. #1

Esta é uma rubrica que inauguro hoje, e em que pretendo falar de personalidades que passaram em determinado momento na minha vida (e podem permanecer, como é o caso do texto de hoje) e me marcaram de alguma forma. Estreio este espaço com uma das pessoas mais importantes na minha vida.


A moreninha que não sabia parar de sorrir

Eu tinha cinco anos quando a conheci - frequentávamos juntas aquilo a que na altura se chamava pré-catequese. Lembro-me de vê-la a primeira vez, com a sua carinha morena de bochechas rosadas emoldurada pelos seus cabelos desgrenhados, de ondulação rebelde - talvez pelo excesso de brincadeira -, de olhos brilhantes e vivaços, e sorriso generoso e facilmente predisposto a desenhar-se no seu rosto meigo. Vestia uma camisa de gola redonda de cor pálida e uma saia com peitoral e alças aos quadrados vermelhos e brancos - aqueles vestidos muito comuns na nossa infância e que foram recentemente ressuscitados para animar o guarda-roupa da pequenada. 

Ela sorria incessantemente para a catequista e recordo-me como se fosse hoje que ela era sempre a primeira a alinhar nos jogos propostos, sem medo de perder e com muita vontade de experimentar tudo - mal imaginava eu que iria experimentar a vida ao lado dela por muitos, muitos anos depois desse dia. 

Eu era aquela miúda que tinha de estar sempre com a mão no ar a insistir responder a todas as perguntas, e com muitas questões na ponta da língua. Afinal, a catequese na altura era uma ocasião importante aos meus olhos e eu já gostava de dar o meu melhor em tudo que fazia. Eu era igualmente sorridente, mas mais sossegada, muito mais sossegada - estava habituada à pasmaceira do colégio que frequentava no ensino pré-primário. Na verdade, eu detestava o colégio e não suportava as meninas da minha turma, que só queriam brincar com bonecas o tempo todo e não tinham qualquer interesse em experimentar outras coisas, como construções de Lego, puzzles, folhear e criar toda uma história à volta dos livros que ainda não conseguia ler, mas cujas imagens me faziam sonhar, ou jogos de exploração do meio (partir em descoberta de ossos de dinossauro, de mochila às costas e livros debaixo do braço era um dos meus jogos preferidos, mas apenas descobri em determinada ocasião dois ossos de galinha no jardim ao pé de casa). Acabava por brincar sempre com os rapazes, mais divertidos e com vontade de imaginar e partir à aventura. 

No entanto, aquela miúda era diferente, diferente de todas as outras que eu tinha conhecido. Aquela não brincava só com bonecas. Aquela corria tanto que ficava com o cabelo colado à testa e ao rosto suados. Reconheço hoje a sensação de saber que aquela menina era perfeita para ser minha amiga. Com ela imaginava-me a brincar, a explorar o mundo e, apesar de na altura não o imaginar, acabaria por com ela partilhar alguns dos melhores momentos da minha vida. Adorava que não conseguisse parar de sorrir e que enfrentasse tudo com aquele sorriso. 

Acabámos por nos aproximar naturalmente e nunca mais nos largamos. Os anos passaram e a nossa amizade persistiu. Ela acabou por se tornar numa constante na minha vida e tenho com ela as histórias mais hilariantes, mais inesquecíveis e mais mirabolantes. Separadas continuamos a ser nós mesmas, mas quando estamos juntas, costumamos dizer que o Universo não está preparado para nós, porque tudo pode acontecer. 

E é assim a Ana. E assim somos nós.

Há uns aninhos, quando fomos de férias juntas.



Beijinhos,

A Menina dos Óculos