Clapham à saída da estação de metro, num dia de neve. |
Quando nos mudámos para Clapham ficámos fascinados com tudo: as lojinhas de comércio tradicional, com todo o tipo de coisas amorosas que as mulheres adoram. Clapham tem lojas de tricot e tecidos, lojas de decoração, lojas de roupa, e todas elas têm um denominador comum: são queridas, super bem decoradas, muito apelativas para o sexo feminino.
Certo dia, estávamos sentados a almoçar no McDonald´s da zona e entrou lá um homem, vestido de mulher, com uma mini-saia curtíssima (eu própria não me atreveria a tal feito), envergando com alguma ostentação o seu peito gigantesco (as minhas meninas ficariam envergonhadas com uma possível comparação), tapado com um top minúsculo. De cabelo comprido cinzento, visivelmente pouco cuidado, e cara envelhecida pelos anos (deve ter uns 65 anos), na sua entrada triunfal, dominava o som poderoso dos seus saltos altos que ecoavam imponentemente naquele estabelecimento de fast-food.
Na altura, não sabíamos, mas ele (ou ela, sinceramente não sei como designá-lo/a) é uma das personagens de Clapham, e é raro o dia que não passo por ele/ela na Clapham High Street. Na nossa falta de habituação no convívio de pessoas mais extravagantes e corajosas (como é o caso), admito que comentámos a situação uns com os outros. Conseguíamos ouvir risinhos estridentes de algumas crianças que acharam toda a situação uma novidade, como nós, e lembro-me que na altura comentei que embora fosse natural a reacção das crianças, não gostaria que um filho nosso o fizesse, e caso o fizesse, sei que seria normal da idade, mas sentiria que era minha obrigação adverti-lo para o facto de que não é certo e que devemos respeitar as outras pessoas e as suas opções, escolhas e preferências. Pois isto foi coisa que não aconteceu naquele dia no McDonald's - os próprios pais atiravam piadas brejeiras para o ar, e eu senti-me constrangida com a falta de respeito que demonstraram.
Aos poucos, perante as constantes faltas de respeito (não dos moradores de Clapham, mas de quem visita ocasionalmente a zona) a este ser humano, comecei a gostar dele, não por ter pena, mas porque admiro a sua coragem. Não faz mal a ninguém, não importuna as pessoas, não perturba, e ignora todos os olhares e bocas indelicadas. Dia após dia passo por ele (ou ela) e fico com vontade de parar um bocadinho e falar com ele (ou ela). Gostaria de perceber porque o faz, se se sente mulher, ou se gostaria de o ser, ou se simplesmente se sente homem, mas sente-se feliz a usar roupa de mulher. Não o faço, não gostaria que pensasse que eu o/a acho uma aberração. Não acho. Admiro simplesmente a sua coragem de fazer o/a que o deixa feliz, independentemente do que todo o mundo possa pensar. Se todos fôssemos assim, o mundo seria um lugar mais alegre.
Continuem a seguir The Bubbly Girl in Glasses,
E já começaram a acompanhar o meu blogue de moda,
E já agora, já fizeram o download da aplicação de moda ASAP54?
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