It's raining cats and dogs! Eu estou na cama, de pijama, quentinha, com as cadelas (Nina Maria e Lunika) sempre por perto e a ressonar como se não houvesse amanhã. A minha sessão de lipo não-invasiva era hoje, mas desmarquei e marquei para a próxima semana, porque já estava atrasada para ir e o tempo, honestamente, não está nada convidativo.
Mudando de assunto drasticamente, dei por mim, há pouco, a fazer um balanço da minha vida neste momento. Sinto-me tão feliz com o que consegui até ao momento, na minha vida. Sinto-me grata pelas amizades fortes que construí, grata pelas pessoas fantásticas que me rodeiam, grata pelas oportunidades no mundo de trabalho e desafios que surgiram na minha vida, e que consegui superar, com força, dignidade e mérito. Sinto que, neste momento, nada poderia ser mais perfeito, pois estou a concretizar todos os sonhos que idealizei quando ainda era uma menininha pequena.
Posso dizer que era uma menina diferente do que seria de esperar. Sempre fui a menina mais feminina do grupinho de amigos e das turmas em que estive. Inicialmente, quando ainda estava no Jardim de Infância (era um colégio privado horroroso que, supostamente, só era frequentado pela "elite" da cidade. O meu pai achava que a educação se prendia com frequentar os melhores colégios privados, i.e.,os mais caros). A minha mãe, ao contrário, defendia que uma boa educação consistia em conviver com todo o tipo de pessoas, de todas as cores, estatutos sociais e religiões, e saber lidar com isso, aprender com essa relação. No final dos anos de Jardim de Infãncia, onde nunca fui feliz, porque eu não era a típica menina normal, fui para a escola pública. A minha mãe tinha fincado o pé cá em casa e venceu a batalha contra os ideais conservadores do meu pai.
Provavelmente, estão a perguntar-se porque é que eu não era uma menina igual às outras, certo?! É simples, era super feminina, já adorava roupa, vestia-me sempre como uma princesa (a minha madrinha é, provavelmente, a melhor modista da cidade, e desde pequena, segui, sem saber, as tendências à risca), mas ao mesmo tempo era criativa e não me dava muito bem com as meninas. Achava-as totós e não entendia por que raios elas só queriam brincar com bonecas o dia todo (eu também brincava com bonecas, mas gostava de diversificar as brincadeiras), quando havia colagens para fazer, puzzles para resolver, jogos de cubos para fazer, livros para ver (costumava ficar horas na biblioteca do infantário, sozinha, a olhar para as imagens dos livros, cujas imagens já tinha memorizado há meses, e a 'fazer força' mentalmente para conseguir ler as palavras. Eu acreditava que ler era uma questão de fazer força mental - coitadinha de mim, achava sempre que não me estava a esforçar o suficiente, porque as letras não se juntavam e eu não conseguia ler o que lá estava, então, fazia ainda mais força)... Assim, só muito raramente brincava com as meninas. Não nos entendíamos. O meu melhor amigo era um menino, que ainda hoje passa por mim na rua, mas não se lembra de mim. Era engraçado, porque me punham de castigo várias vezes (sem ter feito nada que merecesse castigo) e ele aprontava sempre alguma, propositadamente, para poder ir para o castigo comigo, e não me deixar sozinha. Era um querido, um amigo à séria. No geral, eu era a menina de vestidinho, sapatinho de verniz e bolsa, que brincava com os meninos. Isto está, provavelmente, relacionado com o facto de, na altura, passar imenso tempo com o meu avô (que saudades dele...) e com o meu irmão mais velho. Com eles, as brincadeiras eram sempre variadas e envolviam jogos, livros, teatro de fantoches e puzzles. Isto não era lá muito bem visto, como podem entender. A educadora devia achar que eu era um "ser estranho" e não perspectivava a minha diferença e necessidade de ser expansiva e libertar a minha criatividade, com bons olhos.
No ano seguinte, fui para a escola primária pública, ainda com 5 anos. Foi com esta idade que conheci a minha melhor amiga, a minha alma gémea no feminino. A ela, faço aqui uma grande homenagem, por todos estes anos juntas, por todo o companheirismo e por me ter ensinado que podemos ser diferentes e, mesmo assim, felizes. E juntas, somos muito felizes. Gargalhamos, sorrimos e, mesmo quando choramos, custa menos chorar com ela, que chorar sozinha. Tem sido o meu alicerce desde os 5 anos e é a irmã que nunca tive. Quando penso em todos os momentos em que nos apoiámos, em tudo pelo que passámos juntas, é impossível não sorrir. Para ti, já sabes que és o amor da minha vida no feminino. Adoro-te! Algum dia tinha de ficar aqui o registo - é impossível falar de mim, sem falar de ti.
Foi também nessa altura que conheci uma pessoa que reencontraria anos mais tarde, e que se tornaria uma influência importantíssima na minha vida. Falo-vos da Cat, que é presença regular e habitual aqui no blogue. Ela era a menina mais esperta da turma da primária e a minha companheira de carteira. Era fabulosa, já na altura. Eu achava que ela era muito adulta, de tal forma era sensata. Continua igual, actualmente, nesse ponto. É o meu chão firme, o meu porto seguro. Obrigada por tudo. Sabes que tens sido importante na minha vida e que o teu apoio tem imenso valor para mim. Quando és tu que dizes as coisas, eu sei que são verdade. Mesmo que me digas que amanhã vai cair sugus do céu, se fores tu a dizer, eu vou saber que é verdade e acreditar!
No geral, foram estas algumas das relações de amizade, criadas na minha infância, que mais marcaram.
Tinha muitos sonhos quando era pequeninha. Era a miúda mais sonhadora que possam imaginar. Lembro-me de ser muito vaidosa e de ficar horas e horas a olhar para o espelho, porque sonhava ser muito bonita quando crescesse. Achava que as pessoas mudavam muito quando cresciam, em termos faciais. Para meu azar (ou sorte), fiquei igualzinha ao que era na altura. Os meus traços, já na altura muito fortes, ângulo gónico recto, olhos grandes e escuros e boca enorme e expressiva quando sorrio, permanecem os mesmos, hoje. De qualquer forma, perdoem-me a falta de modéstia (mas não sei ser mentirosa), sinto-me satisfeita com os resultados. Não me queixo. Só gostava de ser mais alta e mudava um ou outro detalhezinho no meu nariz.
Com 8 anos, já tinha mais quatro sonhos, além desse: ser professora de Português e Inglês (por influência do meu irmão, comecei a falar Inglês muito cedo), ser escritora, encontrar o meu princípe encantado e, admito, ter um closet de sonho. Já sei que estão a pensar que, para menina de 8 anos, já não pedia pouco. Quando analiso os meus sonhos de então, chego à conclusão que a vida tem sido generosa comigo. Sou professora e bem sucedida, não me considero feia, tenho um closet de que me orgulho (embora ainda não seja o meu closet de sonho, porque todas as semanas se completa mais um bocadinho), encontrei o meu príncipe encantado (neste momento acredito mesmo que sim, e isso é o mais importante), não sou escritora, mas pelo menos, publico os meus textos, o que já me deixa realizada.
Desconheço o que o futuro me reserva, mas sinto-me grata pelo que me trouxe até agora!:)
A todos os amigos que me influenciaram na infância (mesmo os que já não fazem parte da minha vida, mas, principalmente, aos que continuam comigo até hoje), deixo uma música, toda toda para vocês! Thanks u guys! LOVE!
Michael Buble, Some kind of wonderful
Beijinhos, BB
A Menina dos Óculos