Decidi partilhar convosco hoje uma das minhas duas grandes preciosidades: a Lunika, Lunika I de Castrumpekes, segundo o seu BI. Esta menina (a pequinês que aparece na primeira fotografia, tal e qual como está agora) tem uma história triste por trás, infelizmente, mas veio trazer muita alegria e animação cá a casa.
Por meados do ano passado, a minha casa era habitada por dois pequenos peluches peludos e fofinhos: a Nina Maria, uma jovem traquina, altiva, cheia de personalidade e com o nariz sempre empinado e, ao mesmo tempo, amorosa e muito meiga, e o Lunik III, um sénior paciente, calmo, muito inteligente e sensível. Estes eram os focos principais de mimo e atenção cá em casa, até porque os meus pais ainda não têm netos. Embora muito diferentes e embora, por vezes, se desentendessem, o Lunik e a Nina Maria (dois pequineses) eram muito amigos e brincavam juntos. O único problema era precisamente a altivez da Nina, apesar da tenra idade, mas para a qual a sensatez do Lunik encontrava sempre resposta.
Em Agosto passado, o Lunik, começou a queixar-se imenso com dores e após três dias em exames, descobrimos que a doença dele não tinha cura e que o esperava um longo caminho de sofrimento. Nesse momento, o meu mundo desabou. É impossível não chorar quando me lembro do que senti, no momento em que peguei no telefone e atendi a chamada em que a minha mãe me deu a notícia com a voz embargada.
Imediatamente vieram as recordações do dia em que ele chegou a casa. Eu tinha 11 anos e o 6º ano já tinha terminado. Estava de férias, as férias grandes! Todos os dias ia dar um passeio e tinha por hábito passar numa loja de animais ao pé da minha casa. Um dia passei, e quando vi aquele peluche peludo, o meu coração parou. Apaixonei-me, senti aquilo que se sente quando se encontra "o nosso cão". Para quem não gosta de animais, deve ser difícil de entender. Para quem, como eu, adora animais e tem cães, conhece esse sentimento, com certeza. É um laço forte que se cria naquele primeiro olhar e, sem percebermos como, acabamos ligados àquele animal, que passa a ser o nosso companheiro. Cheguei a casa e estive dois dias a "minar" a cabeça dos meus pais, até que convenci o meu pai a ir à loja e ele próprio sentiu o mesmo elo que eu. Lembro-me que, no dia seguinte, estava a dormir na minha cama e acordei com o som, que passaria a ser familiar, de um cachorrinho a ladrar feliz, no andar de baixo. Desci a correr, descalça e impaciente, porque nem queria acreditar! Lá estava ele, a ladrar brincalhão, lindo, peludo, o cão dos meus sonhos. O melhor amigo que se pode esperar ter um dia.
Passados 14 anos, após ouvir as palavras desesperadas da minha mãe, o meu coração batia desenfreado. Os meus pais estavam no veterinário e eu estava sozinha em casa. Apeteceu-me correr, correr para muito longe e fugir para um local onde estas coisas não acontecessem. Suponho que fui criada para acreditar num mundo de fadas, de contos de final feliz e não estava preparada para perder o meu amigo. Simplesmente não queria acreditar, e enfrentar a verdade era mais do que o que me poderiam pedir naquele instante.
No dia seguinte, sem me dizer nada, a minha mãe foi, com o meu pai, despedir-se do Lunik e corajosamente, ficou com ele ao colo, a falar com ele para o acalmar, a mimá-lo e a adormecê-lo pacientemente, com as lágrimas a escorrer pela cara, enquanto a veterinária, também ela a chorar, comovida com o amor que sentíamos (correcção, 'SENTIMOS') pelo nosso companheiro, lhe administrava uma anestesia letal, para que deixasse de sofrer e pudesse partir para o nosso mundo de fadas. E assim foi. O nosso amigo partiu, mas sinto-o sempre comigo e lembro-me dele todos os dias, porque qualquer um dos meus cães é insubstituível, e ele foi o meu primeiro cão. Terá sempre um lugar singular no meu coração. É impossível não chorar ao contar isto. Já passou mais de meio ano, mas é a primeira vez que falo disto aberta e publicamente, desde que aconteceu. Optei por não colocar uma foto dele, porque não consigo abrir nenhuma fotografia dele ainda.
Entretanto, cá em casa, a nossa menina, a Nina Maria, entrou em depressão e deixou de brincar connosco, deixou de ser altiva e resmungona, deixou de ser ela. A minha mãe ficou com uma depressão profunda e o meu pai ia fingindo que estava tudo bem. Numa visita ao médico, este aconselhou-a vivamente a encontrar outro companheiro, não para substituir o lugar do Lunik, mas para ajudá-la a ultrapassar aquele momento difícil. Quanto a mim, senti o apoio dos meus amigos, que me ouviram e me consolaram, e do meu namorado, que me aparou muitas lágrimas e me cedeu o ombro para chorar muitos dias.
Apesar da inicial resistência à aceitação da sugestão do médico, os meus pais acabaram por ceder e eu comecei a procurar na Internet uma menina, desta vez. A minha mãe tinha decidido que seria uma cadela, desta vez, e que se chamaria Lunika, em homenagem e como forma de tributo ao nosso companheiro que já não estava connosco. Acabei por encontrar a Lunika em Castelo Branco, através do Clube Português de Canicultura. A Lunika teve o privilégio de ter uma criadora fantástica e de ter passado os dois primeiros meses de vida rodeada de muito mimo e carinho.
Quando fomos buscá-la, ela estava com os manos e eu fui a primeira a aproximar-me deles. Foi a que saltou mais alto para o meu colo, a que mostrou mais determinação, como se soubesse que íamos ser companheiras todos os dias das nossas vidas. Nesse momento, vi a minha mãe a sorrir de novo, e reforçar o seu sorriso quando pegou nela, como se pegasse num bebé ao colo. Ainda não era a mesma, mas já esboçava algo semelhante a um sorriso. A segunda fotografia que aparece foi tirada na semana que antecedeu a sua chegada à nossa casa. Ela foi escolhida por fotografias. Não deixa de ser curioso que, apesar de a ter "escolhido" por fotografias, senti o mesmo sentimento em relação a ela, que senti quando me apaixonei pelo Lunik e pela Nina Maria (a quem dedicarei um post adiante, não fosse ela a princesa cá de casa).
A Lunika é diferente do nosso Lunik: é menos calma, mais emotiva, mais impaciente, mais chorona e mimada, mais comilona, mais brincalhona; não tem a noção do perigo, é uma aventureira nata. Faz as delícias cá de casa. Ela e a Nina - que, a início não a aceitava - tornaram-se inseparáveis e passam os dias a brincar ao pé de mim ou dos meus pais. A Nina Maria retomou, finalmente, o seu carácter mandão e imperial.
Quem diria que esta pirralha traquina e inconsequente iria acabar por ser o segredo da nossa recuperação?! O Lunik, porém, ficará sempre com o seu lugar reservado, insubstituível, cá em casa. Fez parte das nossas vidas e orgulhar-nos-emos sempre muito dele.
Bem, tenho de ir separar as duas cadelas agora, que a sessão de Wrestling delas já se está a estender e depois não há quem as consiga escovar!
Beijinhos e desculpem a falta da habitual bubbliness,
A Menina dos Óculos