Monday 18 January 2010

Não temos remédio...

Há alguns anos atrás escrevi uma crónica sobre as mulheres, a moda e sobre o modo como as mulheres analisam o sentido de moda e o estilo das outras mulheres. Daqui surgiram expressões que se tornaram icónicas no meu núcleo de amizades e que passaram a fazer parte do nosso "dicionário coloquial". "Dias Borbulha" ou "Inspectoras de Guarda-Roupa" são exemplos disso! Uma vez que continua actual, decidi trancrevê-la e partilhar convosco, até porque continua a ser uma das minhas crónicas favoritas!



Não temos remédio

Actualmente, a moda tem um papel cada vez mais importante na vida da mulher (bem como na do homem). O estilo que adoptamos, a escolha de cada peça de roupa e acessórios que vão preencher o nosso look, irão definir a nossa imagem perante os outros e perante a sociedade em geral. Até aqui, nada de novo; apenas factos adquiridos.
Apesar de ter vivido vários anos no Porto, uma cidade em que as pessoas quase não têm tempo para olhar umas para as outras, neste momento voltei à minha terra natal, uma cidade simpática, mas pequena, em que todas as pessoas se conhecem. Aqui, parte das pessoas da minha idade veste-se de forma cinzenta e pouco glamorosa, tentando apenas passar despercebida. Pelo contrário, eu sou apologista de que a roupa não nos deve tornar clones dos nossos próximos; deve, sim, complementar a nossa identidade e a nossa personalidade. Sendo assim, sou coerente com a minha forma de pensar e tenho um estilo próprio, uma mistura daquilo que genuinamente gosto com as tendências de moda que me atraem. Conclusão: no meio de tantos anónimos, eu quase me sinto uma celebridade. Pergunto-me: “Serei apenas eu que me sinto despida pelos olhares das outras colegas mulheres cada vez que saio à rua?”.
Nunca se sentiram tão abafadas pelos olhares de algumas mulheres, que pensaram: “Será que rasguei o collant?” ou “Não acredito que deixei cinquenta euros no cabeleireiro e já estraguei a banana!”, mesmo se demoraram horas a arranjar-se e podiam apostar que o vestido da Colcci que compraram na semana passada lhes cai na perfeição? Muitas vezes, alguns olhares são suficientes para instalar a insegurança nas nossas cabecinhas...Tendo isto como base, podemos constatar e assumir, finalmente, que o que os homens dizem “As mulheres vestem-se para as mulheres e não para os homens” não é mera especulação; é a mais pura verdade e parece-me desnecessário tentar refutá-lo.
Actualmente, cheguei àquele ponto da minha vida em que os olhares, bem como a inspecção minuciosa que algumas pessoas parecem fazer àquilo que trago vestido, passaram a ser um objecto de reflexão e há aqui dois pontos de vista que temos que considerar.
Por um lado, se nos sentirmos confiantes, podemos tomar a forma como somos examinadas por algumas mulheres, como um elogio... Porém, o pior acontece quando acordamos num daqueles dias horríveis em que já recorremos aos milagres de uma boa base, já colocámos uma das nossas melhores toilets e mesmo assim, por mais perfeitas que estejamos, olhamo-nos ao espelho e sentimo-nos um trapo. Costumo chamar a estes dias “Dias Borbulha”, porque são os dias em que me sinto deprimida, amarela e em que não há Gucci que me faça sentir confortável e que me pareça adequado à ocasião. Os "Dias Borbulha" acontecem quando menos esperamos, nas piores ocasiões e são tão inconvenientes como as próprias borbulhas.
Não é muito agradável, como já devem ter sentido na pele, sentirmos os olhares ajuizadores das nossas companheiras num "Dia Borbulha"; sentirmos aquela sensação constrangedora de que “já não chega ter acordado com estas trombas, o meu namorado ter acabado comigo, ainda tenho que passar por esta inspecção? Se ao menos aquela pacóvia tivesse algum sentido estético...” Enfim, não aconselho “Dias Borbulha”!!
No entanto, não deixa de ser curioso que hoje, quando me apercebi do olhar que uma típica “Inspectora de Guarda-Roupa” me lançou, estava precisamente a olhar para ela e a pensar “Seria possível combinar duas peças de roupa de forma pior?! Que horror! Não vestia aquilo nem com uma corda ao pescoço!”.
Afinal, nós não temos mesmo remédio!
A Menina dos Óculos

5 comments:

  1. E vejo-me "forçada" a partilhar as mesmas ideias que tu (mais uma vez)! :) Nós não temos mesmo remédio! hehehe

    Muitas pessoas condenam atitudes e pensamentos como os que partilhaste aqui, atribuindo um sentimento de futilidade a tais acções. Não vou dizer que não haja um fundo de verdade nesse pensamento, por vezes e em certos casos, é mesmo futilidade pura.
    Mas há que ver as coisas de outro prisma. Lá porque nos preocupamos (e muito) com o que vestimos ou como nos apresentamos, não quer dizer que apenas nos interesse as aparências e o exterior. Eu (e agora falo apenas por mim)sou vaidosa. Assumo e sem medo! :P Gosto de cuidar de mim, gosto de ter uma boa imagem. E porquê? Porque isso me faz sentir bem por dentro!Dá-me segurança, confiança e um sentimento de bem-estar. É condenável?! Não me parece. O segredo está em saber ter um meio termo e eu sei! :)

    P.S. - E também tenho "Dias Borbulha", hoje é um deles! ahaha :D

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  2. Nem mais! Disseste e disseste bem! Na realidade, acaba por me fazer confusão que as pessoas que se sentem frustradas com o seu aspecto físico, apontem o dedo a quem faz por tratar de si... E depois já somos fúteis e só ligamos ao aspecto físico! Queee neerrrrrvooooos que isso me mete! Até porque não é verdade... O aspecto físico é importante, mas é lógico que não é a parte mais importante! No entanto, a imagem que guardamos das pessoas acaba por ser uma mistura do interior com o exterior e por isso, penso que ninguém deve descurar o exterior.
    Agora, vamos é ser honestas e admitir que a maior parte das mulheres repara no que as outras têm vestido e comenta com as colegas; é normal e os gostos não são todos iguais, temos de respeitar... Mas que me chamem fútil, porque me importo, grrrrr... e um saco de areia em forma de gnomo, para eu aliviar o stress, não há por aqui?! :P

    Obrigada pelo contributo, Catarina!

    Beijinhos

    A Menina dos Óculos

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  3. Definitivamente. Adorei a crónica. Está tão perfeita que já li e reli.:)

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  4. Equilíbrio! Em tudo é preciso equilíbrio. Quanto a mim não sou vaidosa mas gosto de me sentir bem comigo mesma. E para isso é preciso andar na "lavoura": perder tempo a escolher, comprar e tratar da roupa, a lavar e pentear o cabelo, a tirar pêlos, a tratar da pele, das unhas, a hidratar...E tudo tem que parecer fácil e natural. Às vezes penso no que seria de mim se deixasse de fazer a "lavoura" e abandalhasse por completo. Mas por muito que nos apliquemos na lavoura ( e isso é bem mais complicado do que brincar com as vaquinhas e morangos do farmville) há os tais dias borbulha em que aumentamos 10 kg, nada serve, nada assenta, a pele ganha brilhos em sitíos estranhos e descama ao mesmo tempo, aquela camisa branca fantástica parece amarela e os sapatos simplesmente magoam nos pés. Aí, é esperar que o dia acabe o mais depressa porque amanhã é novo dia e miraculosamente os kgs desaparecem com a noite. Se isto é ser fútil? Não. Ser fútil é ter uma obsessão com o aspecto físico seu e dos outros. Coisa que normalmente essas " inspectoras" ( que são quase sempre mulheres) têm. Detesto que determinadas pessoas quando me encontram não consigam abstrair da minha imagem e não consigam conduzir a conversa para outros temas. Aliás parecem conhecer melhor o meu guarda-roupa que eu própria e juram a pés juntos que eu cortei o cabelo quando o mesmo não vê tesoura há meses... Era refrescante ouvir um " estás bem?" em vez do " cortaste o cabelo? " ou " sapatos são novos não são?" do costume. Gosto de pensar que sou mais que uma possuidora de sapatos e de uma cabeleira.

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  5. Olá! Boa noite! Antes de mais, agradeço todos os contributos ao blogue d'A Menina dos Óculos. Soube que alguns comentários feitos não apareceram, mas a culpa não foi minha. Simplesmente, não apareceram na página de moderação de comentários, mas não consegui detectar o motivo. Um beijinho grande e continuação de uma óptima semana para todos!

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