Saturday 23 January 2010

A competição começa cedo

Discussão entre miúdas de 3 anos no Jardim de Infância:
Marília: Tu és muito feia, Maria!
Maria: Não sou nada! Tu és má!
Marília: Sou, sim! E eu sou muito bonita! Sou a mais bonita!
Maria: Não és nada! Eu é que sou bonita!
Marília: Não, não, que a minha mamã diz que eu sou tão bonita como a Barbie Mosqueteira Rosa!
Maria: Oh! E a minha mamã diz que eu sou mais bonita que a Barbie Lago de Cisnes!
(...)
Marília: Mas eu tenho a casa grande da Hello Kitty!
Maria: E eu tenho o castelo da princesa da Barbie!
Marília: E eu tenho muitos lápis de cor em casa para pintar!
Maria: Eu tenho muitos lápis de cor e de cera...
(...)
[A discussão continuou por muito muito tempo]
Quando presenciei esta competição entre meninas de 3 anos, pus-me a imaginar como seria a discussão quando elas fossem mais crescidas e penso que o resultado seria algo do género:
Marília: Ai, acho que engordei! Deve ter sido do Natal!
Maria: Engordaste nada! Eu é que estou mais gorda! E cada vez tenho mais celulite, acreditas? Mais parece que nasce de algum lado!
Marília: Não inventes! Eu vi-te de biquini na praia há meses e estavas com as pernas e o bumbum impecáveis!
Maria: Oh, pareceu-te! Tavas longe de mim e não viste bem!
Marília: Olha, tu nem me digas que tens celulite, que eu até me sinto mal! Eu é que tenho mais casca de laranja que as próprias laranjas! A ver se faço umas drenagens linfáticas este mês!
Maria: Mas tu não precisas. Estás tão bem! Eu é que estou mesmo a precisar...
[Esta discussão também iria continuar por horas e horas provavelmente...]
A competição entre mulheres começa cedinho e engana-se bem quem julga que, depois de crescermos e "botarmos corpo", ganhamos juízo! Quando crescem, as mulheres continuam a insistir que "Eu sou mais.... que tu!" (seja para o bem ou para o mal). No entanto, uma vez que a mulher teve de aprender a ser humilde durante a infância e durante a adolescência, porque os pais lhe ensinaram que "não é bonito uma menina dizer que é melhor que as amigas", geralmente, as mulheres começam a concorrer para ver quem é "a pior em X ou em Y". Bem, pelo menos, esse é um dos lados da questão, o lado do que se diz e do que se fala, do que se assume publicamente. O que se vai, de facto, na cabecinha das mulheres? Cá vai a minha teoria!
Para quem já leu alguns dos meus textos, já sabe que eu tenho a convicção de que, por exemplo, as mulheres, geralmente, se vestem para as mulheres, i.e., quando uma mulher se arranja, não costuma fazê-lo para agradar ao sexo oposto, mas sim ao próprio sexo (não meninos, desiludam-se se pensam que é uma atitude lésbica)! Fazemos isso, porque nos habituamos a pensar que a opinião da maior parte dos homens em termos de moda, é completamente irrelevante e, provavelmente, porque continuamos a competir, inconscientemente e disfarçadamente, para ver quem é a melhor.
Por conseguinte, depois há dois tipos de mulheres, que reagem de forma diferente, e de que já falei antes também. Começo pelo "Grupo das Mulheres Genuinamente Simpáticas e Amorosas", que são honestas e que quando vêem uma amiga produzida, linda de morrer, lhe dizem isso com um sorriso aberto e verdadeiro na cara. Este grupo também se "veste para as mulheres", também se preocupa com a opinião delas e também acaba por competir, inconscientemente, com as outras mulheres. A diferença está no simples facto de que este grupo é capaz de admitir, sem qualquer problema e de forma sincera (i.e., não dizem que "eu sou pior que tu nisto e naquilo", apenas porque lhes ensinaram que fica bem dizer isso, mas sim, porque é mesmo o que pensam) que as outras mulheres, muitas vezes, também estão bonitas e arranjadas. Como é óbvio, transpus isto apenas para o lado da moda e para o modo como nos vestimos, mas este fenómeno passa-se a um nível muito mais global, e prende-se por exemplo, com o modo como aceitamos as personalidades diferentes das outras pessoas e com a nossa tolerância em relação a essas diferenças.
Em oposição, temos o "Grupo das Mulheres Genuinamente Invejosas e Ranhosas". Estas são aquelas que, na realidade, quando dizem: "Eu estou mais gorda que tu!", estão a pensar, de facto: "Cruzes! Se estivesse mesmo mais gorda que tu, deixava de comer durante dois meses! Era uma ameixa ao pequeno-almoço e outra ao jantar!" Como se não chegasse, este é o tipo de mulher que quando está com as amigas do mesmo grupo, passa o tempo a competir com elas, muitas vezes de forma suja ("Sim, sim, esse corte de cabelo fica-te muito bem! E essa cabeleireira que te descolorou o cabelo todinho é um espectáculo! Ai e amo esses sapatos amarelos! Com essas calças verde lima, então, fazem um conjunto fantástico!") e a falar mal de todas as outras mulheres que passam, mesmo que elas até estejam bem e não seja possível fazer nenhum reparo à sua toilet. A inveja faz destas coisas!
Penso que falo por todas as minhas leitoras de blogue e amigas, quando digo que estas do último grupo são daquelas que apetece abanar com força, porque eneerrrvam taaaaantooooooo!
Falo por mim que hoje, só para as chatear mais um bocadinho, vou ser mais simpática do que ontem e vou-me arranjar mais! Assim, sempre lhes dou mais um motivo para falarem (mal) de mim e complico-lhes a tarefa de colocar defeitos em tudo e mais alguma coisa! Embruuulhem!
Tenham um óptimo fim-de-semana! Bora juntarmo-nos no Movimento "Vamos pôr os cabelos das Ranhosas em pé?!"
A Menina dos Óculos

5 comments:

  1. Como concordo contigo!!!
    Somos todas mulheres lá no meu serviço, à excepção de 2 homens, sendo que 1 deles é extremamente gay e bem pior que muitas mulheres!

    É uma falsidade tamanha que por vezes até me causa náuseas.... e estes ingleses em ironias e sarcasmos são do melhor que há.

    Beijocas

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  2. Pois! Eu licenciei-me numa faculdade de letras, imagina lá isso!:) 90% da população era feminina! E claro, nas escolas trabalho sempre, maioritariamente, com mulheres. É como digo, conhece-se pessoas muito acessíveis e outras que apetece abanar, porque enervam demais. Acho que, no final, o que importa é não dar demasiada importância às Invejosas e Ranhosas e sim, guardar um lugar para as Simpáticas e Amorosas na nossa vida!:P

    Um beijinho imenso para ti! Obrigada pela assiduidade no blogue! Adoro os teus comentários.

    A Menina dos Óculos

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  3. Todavia, não sentes que por vezes há mulheres que oscilam entre os dois grupos? Eu acho que sim: às vezes são genuinamente simpáticas e amorosas e outras vezes (por motivos que só Deus e/ou as hormonas sabem) são capazes de ser genuinamente malévolas, invejosas e ranhosas, a destilar o veneninho por todos os poros e mais algum. E depois acho que por vezes, as simpáticas e amorosas por muito simpáticas que queiram ser não conseguem evitar o efeito perverso da picada de inveja, acabando por insconcientemente nos desejarem que algo nos corra menos bem. Quanto a mim, quando invejo alguma mulher tendo sempre que o motivo de inveja me sirva de fonte de inspiração ou superação. Pensamentos tóxicos nunca levam a lado nenhum!

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  4. Sim, concordo contigo, há mulheres que por vezes andam meio perdidas entre os dois grupos.:) Por vezes, a tentação é grande, mas há que superar isso. É uma questão de auto-confiança e de reconhecermos o nosso valor.

    Há algumas mulheres que admiro imenso, a vários níveis e tento usar isso como fonte de inspiração. Ora vejamos: admiro a tua sensatez desconcertante, por exemplo, mas não o invejo no sentido negativo. Tento, simplesmente, que isso me sirva de modelo e me torne uma pessoa um bocadinho "mais pés assentes na terra". :)

    Beijinhos grandes

    A Menina dos Óculos

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  5. :) Obrigada. Eu admiro em especial o teu sentido estético e a "pinta". Beijinhos

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