Quando chegámos a Londres conhecíamos algumas pessoas, mas não era propriamente uma multidão de "gente". O facto é que actualmente estamos a morar com pessoas que conhecemos apenas depois de chegar cá. Um dos casais com que moramos agora (fixámo-nos numa nova morada há cerca de três semanas) morava connosco na casa de uns amigos nossos. São os G. e J. Porém hoje, a história não será a história dos G. e J., que por si só já daria pano para mangas, não, hoje a história é sobre o T. e o A., os nossos outros companheiros de casa.
À chegada a Londres, a nossa preocupação número um foi, evidentemente, encontrar uma toca fixa, que isso de ficar na casa de amigos indefinidamente não era propriamente o nosso objectivo. Mal sabíamos nós que encontrar uma casa a um preço razoável (sempre dentro do muuuiiiitoooo caro), decente, limpa, numa zona aceitável que não fosse um antro de tráfico de droga e que não coincidisse com a morada do pessoal todo dos gangs de Londres era como encontrar uma agulha num palheiro. Com isto, adianto já que a nossa estadia na casa dos nossos amigos se prolongou mais do que o que estaríamos à espera. Contudo, no início, não fazíamos ideia do que estava por vir e, logo ao segundo dia, marcámos uma visita a uma agência imobiliária para tentar encontrar uma casa.
Na agência, o nosso consultor, um italiano meio careca, magrito, de camisa branca justa como manda a tradição e sapatinho preto bicudo de cordões, estava a atender dois jovens simpáticos que falavam inglês, embora não fossem, certamente, ingleses -denunciados pela ausência de "British accent". Quando demos conta já estávamos no carro com o italiano pseudo-charmoso e com os jovens que este estava a atender.
Supostamente, estávamos a dirigir-nos a quartos para alugar em apartamentos partilhados na zona de Camden. Coitadinhos, na altura achávamos que era possível encontrar apartamentos em Camden a um preço de facto pagável! Após vermos o primeiro apartamento, um cubículo imundo, com móveis onde não me sentaria e que teria nojo de limpar, numa casa que mais parecia desmoronar-se à primeira rajada de vento (esta parte é capaz de ser exagero meu, mas apeteceu-me, há que tornar a descrição mais dramática), o Mr. Bubbly começa a disparatar no carro, algo mais ou menos do género: 'F&%A-S#, o F7$H0 D@ 4UT@ DO ITALIANO ESTÁ A FAZER DE NÓS PARVOS, OU QUÊ?! A CASA É UMA GRANDESSÍSSIMA M3RD@! E O C@BR@O TEM A LATA DE NOS PERGUNTAR: "GOOD, AH?!" GOOOOD?! EU DIGO-LHE O QUE É GOOD!...' and so on, so on, so on. Ah, e sim, o italiano e os dois jovens já estavam connosco no carro. Evidentemente, fiquei embaraçada. Afinal, os dois jovens não deviam perceber nada, mas o italiano já tinho sérias dúvidas que não entendesse. Queres ver que foi por isso que só nos mostrou casas de caca? Às tantas podia estar agora eu a morar em Camden, num condomínio privado, de cocktail na mão mesmo ao lado da minha piscininha coberta, a um preço muito suportável, não fosse a tendência para os palavrões do Mr. Bubbly. Como devem calcular, eu dei-lhe cotoveladas, belisquei-o, pisei-lhe o pé, eu literalmente tentei infligir-lhe dor para tentar calá-lo. Mas nãaaao, o Mr. Bubby estava-se nas tintas... Vimos mais duas casas nas mesmas condições degradantes, a última das quais estava cheia de italianos a fumar substâncias ilícitas na cozinha e tinha um quarto cuja parede lateral era feita, integralmente, de papelão, para além de mais parecer que pertencia a um ghetto qualquer dos EU (ou ghetto ou prisão, uma das duas), devido à quantidade de grades no prédio e aspecto geral dos moradores. Adivinhem a que nível chegaram os palavrões do Mr. Bubbly! Estava a ver que tinha de lhe dar com uma moca na cabeça só para atordoá-lo e ver se se calava (sim, o homem sofre de violência doméstica, coitadinho).
Estava eu à procura de uma moca à saída do prédio (num ghetto seria de encontrar pelo menos um bastão de baseball, não?) quando um dos nossos dois companheiros, que tinham ficado calados o tempo todo disse: "Isso aqui é péssimo!" com sotaque brasileiro. Imaginem a minha cara! Só consegui balbuciar algo como: "Vocês falam Português?", engoli em seco e pensei: "Raios onde está o bastão?"
O facto é que começámos a sair, e actualmente estamos todos a morar juntos. Coincidências, não é?! Menos mal, que o Mr. Bubbly acabou por se redimir e por conseguir convencê-los que nem todos os Portugueses são broncos e dizem 10 palavrões por cada 15 palavras. A moca, contudo, está ali no armário, não vá ele próprio esquecer-se disso! :)
(adoro esta fotografia, mas o mérito é do Mr. Bubbly)
Tenham um óptimo dia!
Beijinhos,
A Menina dos Óculos
Adorei!
ReplyDeleteEspetacular! Brilhaste com este post.
Fizeste-me rir às gargalhadas.
Beijo. Bés
Obrigada baby!:)
ReplyDeleteAcho que foi um daqueles momentos idiotas, mas inesquecíveis da nossa passagem por cá... mas há muito mais!:P vou contando aos pouquinhos as histórias que já passámos por cá!:P
Beijo grande*,
A Menina dos Óculos
"O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de f@da-s*! que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do f@da-s*!? O f@da-s*! aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor..." (O F@da-s* de Millôr Fernandes)
ReplyDeleteConvido-te a ler o texto:)
Desculpa menina dos óculos, mas eu estou do lado do Mr. Bubbly, pelo direito ao F@da-s*:)
beijinhos***
Pezinhos,
ReplyDeleteBelo texto.:) Bem, tu quase podias criar um grupo no Facebook: "Pelo direito ao F@da-s*!" :P O Mr. Bubbly e um dos companheiros cá de casa eram logo os primeiros a subscrever o grupo. eheheh!:)
Beijo grande, baby,
A Menina dos Óculos
Raramente leio um post grande até ao fim, mas, desta vez nem dei pelo tamanho! Adorei... ri muito, muito, muito e por pouco não me caiam os dentes! A fotografia é sem dúvida qualquer coisa! Este post é sem dúvida viciante... é de ler e ler e ler...
ReplyDeleteBeijinhos, Rita !
Obrigada, Ritinha!
ReplyDelete:) Um beijinho enorme para ti e que corra tudo bem, que realizes todos os teus sonhos. És um poço de talento!
A Menina dos Óculos